Data de publicação
2015
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Maximiliano nasceu, no dia 22 de Março de 1459, em Wiener Neustadt na Áustria, fruto do casamento do sacro imperador romano-germânico, Frederico III, da Casa de Habsburgo, com a princesa portuguesa, D. Leonor, irmã de D. Afonso V e de D. Fernando, duque de Beja e Viseu. Maximiliano era, portanto, primo direito dos futuros reis de Portugal, D. João II e D. Manuel I.

Em 1486, Maximiliano foi eleito “rei dos romanos” em Frankfurt, ascendendo ao trono após a morte de Frederico III, em 1493. Apenas em 1508, com o consentimento do papa Júlio II, foi-lhe atribuído oficialmente o título imperial.

Com D. João II, Maximiliano I criou laços amigáveis, particularmente devido ao apoio do rei português na pacificação de Bruges e de outras cidades flamengas. Estas tinham-se revoltado nos anos 80 de Quatrocentos contra Maximiliano, que se tornara o novo soberano da Borgonha depois do falecimento da sua primeira esposa, Maria de Borgonha, em 1482.

O desencadeamento da guerra entre França e a Casa de Habsburgo, em 1492, e a aliança entre o rei francês, Carlos VIII, e os Reis Católicos, em Janeiro do ano seguinte, conduziu a uma intensificação das ligações entre Maximiliano e D. João II. A aproximação dos dois monarcas foi favorecida devido às rivalidades luso-castelhanas na questão dos direitos das possessões no ultramar. Esta disputa tinha entrado, precisamente nestes anos, na sua fase mais acesa, em consequência da primeira viagem de Colombo às Índias Ocidentais e à polémica divisão do Atlântico pelo papa Alexandre VI, contestada veementemente pelo Príncipe Perfeito. Maximiliano concordou com a posição portuguesa e ofereceu a D. João II o seu apoio, propondo uma viagem de descoberta por via ocidental. O imperador tencionava também subsidiar este projecto. Graças à recomendação do habsburgo, Diogo Fernandes Correia negociou neste contexto, ainda em 1493, com as casas comerciais dos Fugger e dos Gossembrot de Augsburgo. O reforço das relações diplomáticas entre Portugal e o Sacro Império ganhou os seus contornos mais evidentes em 1494. Em Junho deste ano, ou seja, pouco antes da celebração do Tratado de Tordesilhas, Maximiliano e D. João II prometeram mutuamente eterna amizade e aliança em caso de guerra nos denominados “Capitolos de Pazes” (Colónia, 23.6.1494). Este contrato perdeu, no entanto, a sua validade já no ano seguinte devido à morte do rei português e não foi renovado após a subida de D. Manuel I ao trono de Portugal.

Aparentemente, as boas relações até aí existentes entre as Casas de Habsburgo e de Avis esfriaram, pois Maximiliano havia reclamado também a herança da coroa portuguesa. Além disso, a orientação diplomática e os planos dinásticos do imperador mudaram drasticamente dada a nova constelação das alianças em consequência da invasão francesa em Itália em 1494. O ataque da França ameaçou os interesses de Aragão e da Casa da Áustria na Península do Apenino, o que levou a uma aproximação político-dinástica entre Maximiliano e Fernando de Aragão que culminou nos célebres casamentos dos filhos do imperador (Filipe o Belo e Margarete) com os filhos dos Reis Católicos (Joana a Louca e Juan) em meados dos anos 90 de Quatrocentos. A morte do príncipe Juan, em 1497, abriu perspectivas prometedoras à herança das coroas de Castela e Aragão, tanto para a Casa de Avis como para a Casa de Habsburgo. Ao que parece, por causa da delicada situação dinástica na Península Ibérica, Maximiliano e D. Manuel evitaram, no início do reinado deste último, estabelecer relações diplomáticas. Apenas no ano de 1499 se encontra um sinal inequívoco que comprova um contacto directo entre os dois monarcas. A iniciativa partiu do rei português que em Agosto desse ano dirigiu uma carta ao “vitoriosíssimo e potentíssimo príncipe Maximiliano, da graça de Deus imperador romano e Augustus”. D. Manuel utilizou aqui pela primeira vez o título de “rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África e senhor da Guiné e da conquista, da navegação e comércio de Etiópia, Arabia, Pérsia e Índia”. Nesta carta, o Venturoso informou orgulhosamente o seu primo acerca dos resultados da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, das especiarias, pedras preciosas e pérolas que os Portugueses aí encontraram e prometeu a Maximiliano acesso a estas riquezas.

Existem várias fontes que documentam o especial interesse de Maximiliano na Expansão Portuguesa, cujo desenvolvimento seguiu atentamente, em primeiro lugar, pelo seu conselheiro Conrad Peutinger. O afamado humanista de Augsburgo era sócio da célebre companhia comercial de Anton Welser, seu sogro. Esta companhia tinha fundado, em 1503, uma feitoria em Lisboa, tendo participado, desde 1505, directamente em duas viagens portuguesas à Índia. Os projectos ultramarinos dos Welser e de outras casas comerciais alemãs foram apoiados por Maximiliano, a quem foram solicitadas cartas de recomendação destinadas à coroa portuguesa. Paralelamente conseguiram, através do imperador, uma licença especial que permitia a exportação de prata para Lisboa via Países Baixos. Em 1505 tinha chegado às mãos do imperador uma genealogia de todos os reis e príncipes da Península Ibérica, enviada por Valentim Fernandes, famoso tipógrafo e principal mediador dos alemães em Portugal. Este documento corrobora a ideia de que Maximiliano nunca perdeu de vista a sua ambição em relação ao trono português. Desta forma, explicam-se também as inúmeras referências que faz nas suas obras históricas e autobiográficas ao império português. Numa destas, D. Manuel I é designado como “o rei da nova rota”. Noutra é mencionado o denominado “reino das 1.500 ilhas” referente às possessões portuguesas no Extremo Oriente, que o imperador incluiu na sua concepção de uma monarquia universal. Notícias sobre a Expansão Portuguesa e a nova imagem do mundo circularam entre os eruditos e artistas ligados à corte imperial.

Paralelamente ao crescente interesse de Maximiliano nos Descobrimentos Portugueses intensificaram-se, a partir da primeira década de Quinhentos, as relações político-diplomáticas entre o imperador e a coroa portuguesa. Em 1506 faleceu, inesperadamente, Filipe o Belo. A morte do único filho de Maximiliano pôs em risco a “herança espanhola” dos Habsburgos, enquanto Fernando de Aragão assumiu a regência em Castela contra as ambições de D. Manuel. O rei português, por sua vez, tentou reforçar os laços dinásticos com a Casa de Habsburgo, preparando a longo prazo o casamento da sua filha, D. Isabel, com o neto de Maximiliano, o futuro imperador Carlos V. Desde 1509 falou-se também sobre o enlace da arquiduquesa D. Leonor com um dos filhos de D. Manuel. Como intermediário deslocou-se Tomé Lopes por várias vezes à corte imperial. Já antes tinha ali aparecido na pessoa de Duarte Galvão um outro embaixador do rei português para convidar Maximiliano a empreender uma acção militar contra os “inimigos da fé” para a reconquista da Terra Santa. Embora este plano não tenha sido levado a cabo, é de constatar que o espírito de cruzada sempre constituiu um elemento de ligação entre os dois monarcas, que se entenderam como protectores da cristandade e viram no zelo cristão de missionação e na guerra contra os “infiéis” a sua mais nobre tarefa de vida. Em 1510, Maximiliano, após ter recebido notícias sobre algumas das vitórias alcançadas pelos Portugueses no Oceano Índico, dirigiu uma carta pessoal a D. Manuel felicitando-o pelos triunfos contra os inimigos da cristandade e pedindo-lhe informações detalhadas sobre navegação, descobrimentos e comércio portugueses no Ultramar. O Venturoso foi incluído, em 1516, na ilustre Ordem do Tosão de Ouro, desempenhando, nos anos seguintes, um papel central nos planos cruzadísticos do imperador. No entanto, este amplo projecto foi impedido devido à morte de Maximiliano em Wels no dia 12 de Janeiro de 1519. Ainda em vida de Maximiliano realizou-se o casamento da sua neta, Eleonore (D. Leonor), com D. Manuel. Este enlace marcou o início de uma série de matrimónios dinásticos entre as Casas de Habsburgo e de Avis que se concretizaram nas décadas seguintes e que influenciaram fortemente a história política da Europa no século XVI.

Bibliografia:
FERNANDES, Manuela Mendonça M., “Alguns aspectos das relações externas de D. João II”, in: Congresso internacional «Bartolomeu Dias e a sua época». Actas, vol. 1, Porto, 1989, pp. 333-358; GARCIA, José Manuel, “A Carta de D. Manuel a Maximiliano sobre o Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia”, Oceanos, 16 (1993), pp. 28-32; KRENDL, Peter, “O Imperador Maximiliano I e Portugal”, in: Ludwig Scheidl/ José A. Palma Caetano, Relações entre Portugal e a Áustria. Testemunhos históricos e culturais, Coimbra, 2002, pp. 87-110; POHLE, Jürgen, Deutschland und die überseeische Expansion Portugals im 15. und 16. Jahrhundert, Münster, 2000; idem, O imperador Maximiliano I, a alta finança alemã e os Descobrimentos Portugueses (em preparação).