Data de publicação
2009
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Área Geográfica
Governador da Índia (1629).

Nascido em data desconhecida, foi o segundo filho de Diogo Botelho e de D. Maria Pereira. O seu pai fora gentil-homem de D. Filipe II de Portugal, capitão-general das armadas de alto bordo, capitão de Tânger, embaixador a Sabóia, e ainda governador do Brasil entre 1602 e 1607. Consorciou-se com D. Brites de Lima, filha do 5º senhor de Sarzedas, D. Luís Lobo da Silveira, e de D. Joana de Lima. O tio mais velho de D. Brites, D. Rodrigo Lobo da Silveira, foi o 1º conde de Sarzedas e vice-rei da Índia de 1655 a 1656. Na descendência de Nuno Álvares Botelho apenas se destaca o filho único Francisco Nuno Álvares Botelho, titulado por D. Filipe III como 1º conde de São Miguel. O seu filho viria a casar-se três vezes até assegurar sucessão para a sua Casa. Membro do Conselho Real e de alcunha "O Grande", Nuno Álvares Botelho serviu na armada do Reino de 1598 a 1616. Capitão-mor das armadas da Índia de 1617 e de 1621, após dois regressos ao Reino, partiu uma terceira e última vez para a Índia, novamente como capitão-mor em 1624. Antes de partir em 1624, em atenção aos seus serviços, o monarca concedeu-lhe a comenda de Santa Maria de Mirandela na Ordem de Cristo. A sua presença na Índia logo foi notada por ter logrado chegar a Goa com toda a sua armada inteira sem ter pelejado com os inimigos pelo caminho. Na ocasião, o vice-rei D. Francisco da Gama, 4º conde da Vidigueira, nomeou-o para coadjuvar Rui Freire de Andrade na perseguição e combate aos navios ingleses e neerlandeses que então circulavam em direcção ao Golfo Pérsico. O Botelho destacou-se destroçando navios inimigos no Golfo Pérsico e em Surrate, e ainda em diversas acções navais nos anos seguintes contra aqueles inimigos. Em 1629, aquando do cerco de Malaca, ofereceu-se ao governador D. Frei Luís de Brito e Meneses para socorrer aquela fortaleza, tendo-lhe então sido negada tal possibilidade. Com a prematura morte do bispo governador e dada a ausência do vice-rei, D. Francisco Mascarenhas, entretanto nomeado por D. Filipe III, e que aliás havia falecido na viagem para a Índia, abriram-se as vias de sucessão encontrando-se nomeado governador nas segundas (na primeira havia saído o falecido bispo de Cochim). Porém, o nome que saíra nas instruções era o de Nuno Álvares Pereira. Na época, apenas existia na Índia, um D. Nuno Álvares Pereira que era capitão de Moçambique. Não usando na altura, o apelido Pereira, que deixara há muito de usar e que apenas herdara de sua mãe, a urgência do contexto político de então levou a que Nuno Álvares Botelho fosse empossado no governo. As instruções régias previam a tripartição do poder entre Nuno Álvares Pereira, o arcebispo de Goa e o capitão da cidade, que então era D. Lourenço da Cunha. Devido à recusa do arcebispo em aceitar o governo, integrou-o em seu lugar Gonçalo Pinto da Fonseca. Segundo a tripartição, a Nuno Álvares Botelho caberia a componente militar, a D. Lourenço da Cunha a vertente política e a Gonçalo Pinto da Fonseca a da justiça. Uma tal divisão coadunava-se com os interesses de Botelho que só aceitou o governo na condição de ir de imediato socorrer Malaca. Porém, persistia o problema do nome inscrito nas instruções. A questão foi resolvida pelo Senado e povo de Goa que elegeram o biografado para governador, atribuindo-lhe ainda autoridade acrescida face aos seus dois companheiros de governo. De seguida, realizou-se um Conselho de Estado no qual se oficializou a referida tripartição do governo da Índia. Desta forma, o governo de Nuno Álvares Botelho iniciou-se a 2 de Agosto de 1629, data da sua tomada de posse oficial, finalizando com a chegada do vice-rei D. Miguel de Noronha, 4º conde de Linhares, a Goa, a 21 de Outubro.

Ainda antes de ter a sua situação enquanto governador da Índia oficializada, Nuno Álvares Botelho pediu autorização ao Senado de Goa para partir em socorro de Malaca, embora tal só viesse a suceder em inícios de Setembro, período durante o qual o governador se empenhou em preparar os socorros a prestar à praça sitiada. Partindo de Goa a 20 de Setembro, com poderosa armada, Nuno Álvares Botelho chegou às imeadiações de Malaca a 22 de Outubro, no exacto momento em que, em teoria, deixaria de ser governador pela chegada de D. Miguel de Noronha a Goa. Contudo, o novo vice-rei viria a encará-lo como uma espécie de governador do Sul, em quem delegava poderes e missões de responsabilidade, como adiante se verá. A fama de Nuno Álvares Botelho determinou que, face à sua chegada a Malaca, logo uma parte do contingente inimigo, liderado por Lassamane, general do sultão do Achém, debandasse. Após diversas acções de combate lideradas por Botelho e nas quais se destacaram muitos dos capitães que com ele haviam partido de Goa, em especial D. Jerónimo da Silveira, o inimigo iniciava a retirada definitiva a 25 de Novembro. Todavia, Nuno Álvares Botelho não aceitava assinar a paz sem que o embaixador português, Pedro Abreu, preso desde Abril daquele ano, fosse libertado pelas forças do Achém. Quando o socorro do rei de Pão chegou às imediações de Malaca, não só o inimigo estava já totalmente derrotado, como o general coadjutor de Lassamane, Marraja, falecera. Por fim, após um novo ataque em que os Portugueses se apropriaram de vários despojos, Nuno Álvares Botelho foi alvo de uma calorosa recepção em Malaca, à qual também acorreu o rei de Pão e ainda um embaixador do rei de Pera, anterior vassalo tributário do sultão do Achém que, ao momento se colocou sob a vassalagem do Estado da Índia. Em Dezembro, sabendo da presença de embarcações neerlandesas, que procuravam capturar os navios portugueses que seguiam para o Celeste Império, Nuno Álvares Botelho procurou sair em sua defesa, embora tarde de mais. No entanto, este insucesso, datado já de Janeiro de 1630, viria a ser colmatado pelo aprisionamento de Lassamane e de um dos grandes nobres do sultanato do Achém, embora às mãos do rei de Pão. Este foi então enviado por Goa, devendo depois seguir para Portugal, embora viesse a falecer na viagem para o Reino. Para tal missão, Nuno Álvares Botelho elegeu António de Sousa Coutinho. Entretanto, Botelho escrevia ao vice-rei pedindo-lhe socorro em homens e munições para poder prosseguir a sua acção no combate aos Neerlandeses na região. Os preciosos auxílios do vice-rei chegaram em Abril de 1630, pouco depois do ataque a Jambi, liderado por Nuno Álvares Botelho e no qual foram apresados diversos navios de inimigos do Estado da Índia. Com a chegada dos reforços, o capitão pretendeu atacar Jakarta, a sede do poder neerlandês na Insulíndia mas, uma vez partido para a região viria a envolver-se no combate com um navio neerlandês, que lhe custou a vida quando procurou socorrer, sem sucesso, D. António Mascarenhas. Com a sua morte, a expedição a Jakarta acabou por ser adiada e os restantes capitães regressaram a Malaca. Tomando conhecimento da sua morte, D. Filipe III não só a lamentou mais do que a da rainha da Polónia, como passou as seguintes mercês ao seu filho: o referido título de conde de São Miguel; os proventos da capitania de Moçambique para pagar as dívidas contraídas; uma doação pérpetua dos bens que tinha à data da sua morte; direito de sucessão por quatro gerações das comendas para os descendentes, acompanhada atribuição de mil ducados de renda aos seus descendentes. A crer nas palavras de Faria e Sousa que cita uma carta de D. Filipe III, o rei estaria disposto a dar-lhe o estatuto de grande de Espanha se a fazenda régia não estivesse em situação de aperto.

Bibliografia:
Nuno Álvares Botelho, capitão geral das armadas de alto bordo e governador da Índia, edição de A. Botelho de Sousa, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1940. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, volume VI, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, 4º Parte, caps. VI-VII, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.