Data de publicação
2009
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Este aventureiro português ao serviço de D. João II recebeu do Conde de Ficalho um trabalho biográfico ainda incontornável. Pêro da Covilhã terá nascido entre 1450 e 1455. Muito novo terá emigrado para Castela, onde em 1467 ou 1468 estava ao serviço da casa de Medina Sidónia, em Sevilha. Em 1474, regressou a Portugal entrando ao serviço de D. Afonso V como «moço de esporas». Depois da batalha de Toro, acompanhou o Africano a França, onde o rei português pediu auxílio a Luís XI. Nesta última viagem, Pêro da Covilhã era já escudeiro, condição que manteve quando D. João II subiu ao trono. Ao serviço do novo monarca, partiu para Castela para vigiar discretamente os inimigos do Príncipe Perfeito, que tinham procurado refúgio no reino vizinho. Segundo o relato do próprio Pêro da Covilhã ao padre Francisco Álvares, foi por duas vezes ao Norte de África em missão comercial. Na sua estadia em Sevilha deve ter aprendido rudimentos de árabe, conhecimentos que terá aprofundado nestas duas últimas viagens. Quando regressou do Magreb, D. João II deveria ter começado a planear o envio de emissários até à Índia, certo que estava da possibilidade da navegação do Atlântico para o Índico. Esta missão foi entregue a Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, este último oriundo de Castelo Branco, também escudeiro e igualmente conhecedor de língua árabe. Segundo relato do próprio Pêro da Covilhã, para melhor se orientarem foi-lhes entregue um mapa-mundo que irremediavelmente se perdeu no decurso da viagem. Caso tenha existido, o regimento de D. João II aos dois aventureiros deveria centrar-se em três missões concretas, a saber: recolher informações sobre o comércio na Índia, tentar apurar se de facto os oceanos Atlântico e Índico estavam ligados e, por último, contactar o Preste João de modo a determinar o verdadeiro poder militar deste rei cristão. Desta última missão estava encarregue Afonso de Paiva. Em Maio de 1487, os dois aventureiros partiram, levando consigo uma carta de crédito e quatrocentos cruzados em moeda corrente. Segundo o testemunho de Pêro da Covilhã, atravessaram a Península Ibérica até Valência e Barcelona, seguindo depois por mar até Nápoles, a Rodes e a Alexandria. Para atravessarem as terras muçulmanas terão usado o disfarce de mercadores pois só nessa condição eram tolerados cristãos em tais territórios. De Alexandria passaram ao Cairo, onde integraram um caravana de magrebinos com destino a Adém, indo por terra até Toro, com escala em Suez, e dirigindo-se daí até ao seu destino por via marítima. Foi em Adém que os dois enviados se separaram combinando que assim que cumprissem as suas missões se reencontrariam no Cairo para regressarem a Portugal. Afonso de Paiva estava destinado à Etiópia enquanto que Pêro da Covilhã deveria seguir para a Índia. De Adém Pêro da Covilhã partiu para Cananor e depois para Calecut e daí para Goa. Mais tarde, foi a Ormuz. Continuou o seu périplo pela costa oriental africana tendo chegado até Sofala. A missão de Pêro da Covilhã estava terminada, assim, em princípio de 1491, regressou ao Cairo onde lhe foi dada a notícia da morte de Afonso de Paiva e como este não chegara sequer a entrar na Abissínia. Mestre José e o rabino Abraão transmitiram-lhe novas ordens régias. Pêro da Covilhã deveria acompanhar o rabino a Adém em missão desconhecida, assim como, antes de regressar a Portugal, deveria recolher informações sobre o Preste João. Mais uma vez, Pêro da Covilhã deu cumprimento às ordens de D. João II. Segundo o Conde Ficalho, deve ter entrado na Etiópia no ano de 1492 ou 1493, alcançado a corte de Eskender, que era então o rei ou negus da Abissínia, a quem entregou as cartas escritas em árabe que o monarca português enviara. Cumprida a sua missão, Pêro da Covilhã foi apanhado numa crise sucessória instalada após a morte de Eskender. Quando o rei Narod subiu ao trono, Pêro da Covilhã pediu-lhe as credenciais necessárias para regressar a Portugal, mas o novo monarca não o deixou partir. Pêro da Covilhã deve-se ter adaptado bem à vida na Abissínia, onde exerceu cargos na administração. O negus doou-lhe terras onde se instalou e constituiu família. Teria cerca de setenta anos quando chegou a embaixada de D. Rodrigo de Lima. Foi nesta ocasião que relatou a sua viagem ao padre Francisco Álvares que o assentou na sua obra A Verdadeira Informação da Terra do Preste João das Índias. Quanto ao relato que teria enviado a D. João II, este provavelmente nunca chegou ao destinatário, como refere Gaspar Correia. Com efeito as armadas de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral foram preparadas no pressuposto de que a Índia era maioritariamente cristã e a esquadra do Gama não saiu de Lisboa com informações ajustadas à navegação no oceano Índico, nomeadamente, aos ventos de monção.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992. FICALHO, Conde de, Viagens de Pêro da Covilhã, Lisboa, 1989. PEREIRA, António dos Santos, "Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, de Castelo Branco: Agentes Secretos de D. João II", in Anais Universitários. Série Ciências Sociais e Humanas, Covilhã, Universidade da Beira Interior, n.º 1, 1990, pp. 147-155.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992. FICALHO, Conde de, Viagens de Pêro da Covilhã, Lisboa, 1989. PEREIRA, António dos Santos, "Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, de Castelo Branco: Agentes Secretos de D. João II", in Anais Universitários. Série Ciências Sociais e Humanas, Covilhã, Universidade da Beira Interior, n.º 1, 1990, pp. 147-155.