Data de publicação
2014
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Período
Filho segundo de Álvaro Pires de Távora, 4º senhor do Mogadouro, e de D. Joana da Silva, terá nascido cerca de 1490. Apesar de ser o seu irmão mais velho, Luís Álvares de Távora, quem veio a herdar a Casa de seu pai, tudo aponta para que, pela sua condição de nascimento, Rui Lourenço de Távora tenha sido uma figura influente desde cedo. Foi com o infante D. Luís a Tunes, em 1535. Pouco antes casara com D. Joana Ferrer de Acuña, dama da rainha D. Catarina, filha de D. Jaime Francisco Ferrer, senhor de Sot e lugar-tenente do governador de Valência, de quem teve, vários filhos e filhas.

Em 1538, partiu na armada do vice-rei D. Garcia de Noronha (1538-1540) como capitão de um dos navios da armada, nomeado pelo rei para a capitania de Baçaim. Uma vez chegado à Índia, e já depois de findo o primeiro cerco de Diu, em inícios de 1539, foi provido pelo vice-rei na capitania. Devido ao facto de então as pazes com o sultanato guzerate ainda não estarem assinadas, o vice-rei enviou vários socorros a Rui Lourenço para este concretizar diversas acções de guerra contra aquele sultanato. No entanto, a sua acção mais importante decorreu já em 1540, quando conteve a invasão do senhor de Damão às terras de Baçaim e logrou destruir navios inimigos que se encontravam em Agaçaim. Ainda nesse ano escreveria a D. João III alertando para a ameaça otomana ao subcontinente indiano. No entanto, já durante o governo de D. Estêvão da Gama (1540-1542) não marcou presença na jornada do Suez em 1541, uma vez que pediu autorização àquele governador para poder regressar antecipadamente ao Reino. Por ser irmão de D. Ana de Távora, que casara com D. António de Ataíde, 1º conde da Castanheira e valido de D. João III, Rui Lourenço de Távora teve esperança de poder ser nomeado governador da Índia para suceder a Gama. Partindo para o Reino ainda em 1540, desconhecia que o rei tencionava nomear Martim Afonso de Sousa para suceder a Gama.

Após o regresso, manteve a sua influência na corte de D. João III e de D. Sebastião a ponto de lograr casar, em data incerta, a sua filha D. Catarina de Távora com Lourenço Pires de Távora, 3º senhor do morgado de Caparica, conhecido e influente diplomata de D. João III e D. Sebastião. Coube-lhe, portanto, a renovação da aliança dos dois ramos da linhagem dos Távoras. Por via daquele casamento, Rui Lourenço de Távora foi, ainda em vida, avô de Cristóvão de Távora, figura influente junto de D. Sebastião nos anos finais do seu reinado, e ainda de um sobrinho seu homónimo que seria vice-rei da Índia entre 1609 e 1612. Membro do conselho de Estado de D. João III desde 1550, no seu regresso ao Reino comprou a Simão da Cunha o cargo de trinchante do rei. Pouco depois, em data incerta, foi enviado por D. João III como capitão de uma armada de socorro a Ceuta. Membro do conselho de Estado de D. Sebastião, em 1574, passou a África com aquele rei, marcando presença em Ceuta e Tânger e sendo de opinião que o monarca não deveria arriscar a sua vida no combate contra o vice-rei de Mequinés.

Em 1576, data em que D. Sebastião o nomeou vice-rei da Índia, exercia o cargo de Provedor da Misericórdia de Lisboa. A sua indigitação vice-real, para suceder ao governador António Moniz Barreto (1573-1577), decorria na sequência de ter participado nas conjuras cortesãs que pretendiam afastar a influência do escrivão da puridade Martim Gonçalves da Câmara. Já de avançada idade quando foi nomeado vice-rei, a missão atribuída a Rui Lourenço de Távora não era fácil na medida em que o rei pretendia afastar o governador Moniz Barreto que incumprira diversas ordens régias, designadamente em relação à autonomização do governo de Malaca. Rui Lourenço foi ainda incumbido de alcançar empréstimos dos Estados amigos do Estado da Índia a fim de ajudar a financiar a projectada expedição de Alcácer-Quibir. Partindo em Abril de 1577, veio, contudo, a falecer em Moçambique. O seu falecimento veio a abrir caminho para disputa muito semelhante à que decorrera em 1526 entre Lopo Vaz de Sampaio e Pero de Mascarenhas e à consequente ameaça de guerra civil. Não tendo chegado a tomar formalmente posse do governo da Índia, o governador António Moniz Barreto permaneceu no poder, apoderando-se das instruções e vias de sucessão que Rui Lourenço de Távora trouxera para a Índia em 1576. A disputa fez-se em torno das sucessões, dividindo-se a Índia entre a facção apoiante da não obrigação jurídica de as abrir, encabeçada por Moniz Barreto, e a facção que pretendia que estas fossem abertas.

Rui Lourenço de Távora foi comendador de Miranda, na Ordem de Cristo, tendo vasta geração: Álvaro Pires de Távora que faleceu sem sucessão, D. Catarina de Távora, já referida esposa de Lourenço Pires de Távora, D. Maria de Távora que casou com Agostinho de Lafetá, D. Inês de Távora que casou com Diogo de Saldanha, D. Lourença de Távora que casou com João de Saldanha, comendador de Vilar de Macada, na Ordem de Cristo, e ainda D. Ana, D. Madalena e D. Leonor de Távora, freiras do mosteiro de Celas em Coimbra.

Bibliografia:
COUTO, Diogo do, Da Ásia, IV, v, 6-8, vi, 4, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; MACHADO, Diogo Barbosa, Memorias para a Historia de Portugal, que comprenhendem o governo delrey D. Sebastião, unico em o nome, e decimo sexto entre os Monarchas Portuguezes, tomo IV, Lisboa Occidental, Na Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1757, livro I, cap. XXI; SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo XII, parte I, Coimbra, Atlântida Editora, 1953, p. 47; VILA-SANTA, Nuno, "Revisitando o Estado da Índia nos anos de 1571 a 1577", Revista de Cultura, nº 36, Macau, 2010, pp. 88-112.