Data de publicação
2009
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Martírio ocorrido em Nagasáqui, a 10 de Setembro de 1622, no qual cinquenta e cinco pessoas perderam a vida. Ficou também conhecido como o grande martírio de Nagasáqui, distinguindo-se de outros três ocorridos na cidade no mesmo ano. Embora o martírio de 10 de Setembro tenha atingido porporções mais impressionantes, todas as execuções levadas a cabo em Nagasáqui nesse ano foram desencadeadas pelo mesmo acontecimento. Em 1620 uma embarcação japonesa proveniente de Manila foi atacada por ingleses ao largo da Formosa. Salvos por navios holandeses, os tripulantes foram transportados de volta para o Japão. Ao chegar a Hirado, o capitão do navio apresentou uma queixa junto das autoridades nipónicas; de forma a defenderem-se das acusações, os marinheiros ingleses argumentaram que o navio transportava clandestinamente dois missionários. No decorrer das investigações, um dos religiosos, o agostinho Pedro Zuñiga, acabou por confessar, sendo imediatamente preso, assim como o capitão do navio e mais dois tripulantes. O outro religioso, o dominicano Luís Flores, ficou sob custódia dos holandeses, até a conclusão do inquérito. Enquanto se encontrava no cárcere foi alvo de uma tentativa de resgate, planeada por um missionário da sua ordem e levada acabo por cinco japoneses. O plano, no entanto, foi mal sucedido e juntamente com os intervenientes foram capturadas algumas cartas que implicavam seis mercadores portugueses, incluindo o capitão-mor Jerónimo Macedo de Carvalho, que acabaram também por ser presos para averiguações. O assunto foi comunicado à corte, que condenou à morte os dois mendicantes, assim como os tripulantes da embarcação em que viajavam.Tal como no martírio de 1597, Nagasáqui foi o palco das execuções, embora os acontecimentos não tivessem directamente relacionados com a cidade. No entanto, a maioria dos marinheiros da embarcação era natural de Nagasáqui ou aí havia estabelecido residência. O martírio ocoreu a 19 de Agosto de 1622, sendo os dois religiosos e o capitão do navio condenados à fogueira e os doze tripulantes degolados, por não se considerar o seu crime tão grave. Como forma de demonstração de autoridade, o poder central japonês decidiu tabém punir todos os que, de alguma forma, estivessem envolvidos em casos semelhantes de auxílio a religiosos. Assim, a 10 de Setembro desse mesmo ano, cinquenta e cinco pessoas foram executadas quer por via do fogo, quer por via da espada. Do rol dos condenados faziam parte vinte e quatro religiosos: onze dominicanos, nove jesuítas e quatro franciscanos, encontrando-se alguns deles aprisionados há cerca de três anos. O restante grupo era constituido pelos hospedeiros dos religiosos, sua família e respectivo goningumi (aliança de cinco moradores de uma mesma rua na qual todos eram responsabilizados pelas acções dos seus membros). Eram todos de origem japonesa, chinesa e coreana, havendo também uma criança luso-nipónica, filha do mercador português Domingos Jorge, executado pelas autoridades japonesas em 1619. Tal como na execução de 19 de Agosto, também este martírio foi seguido por uma grande assistência mas contou igualmente com um elevado número de soldados, de forma a prevenir qualquer perturbação. Após as execuções, os corpos dos mártires foram vigiados durante alguns dias sendo depois queimados. As suas cinzas, juntamente com as daqueles que haviam morrido na fogueira, foram mais tarde espalhadas pela baia de Nagasáqui, impedindo assim qualquer recolha de relíquias. No dia imediatamente a seguir ao grande martírio mais três pessoas perderam a vida tendo a última execução desse ano ocorrido a 2 de Outubro. Nesta foram martirizados os cinco japoneses que haviam tentado libertar Luís Flores, bem como as suas famílias, perfazendo no total nove execuções. O ano de 1622 marcou também uma nova fase na política anti-cristã seguida pelo governo japonês, e especialmente no que diz respeito a Nagasáqui, pois se até aí os principais visados eram os missionários, a partir dos martírios de 1622 passou a existir uma perseguição directa aos cristãos, no intuito de aniquilar a comunidade.
Bibliografia:
BOXER, Charles R., The Christian Century in Japan, Berkley-Los Angeles, University of California Press, 1967. FERNANDES, Bento, Tratado dos gloriosos martyres que por defenção da fee de Christo Nosso Senhor derão suas Vidas, em Jappam no reino de Figen o anno de 1622 // feito pollo Padre Bento Fernandes da Companhia de Jesu, Biblioteca Pública de Évora, códice CXVI - 1-31.
Bibliografia:
BOXER, Charles R., The Christian Century in Japan, Berkley-Los Angeles, University of California Press, 1967. FERNANDES, Bento, Tratado dos gloriosos martyres que por defenção da fee de Christo Nosso Senhor derão suas Vidas, em Jappam no reino de Figen o anno de 1622 // feito pollo Padre Bento Fernandes da Companhia de Jesu, Biblioteca Pública de Évora, códice CXVI - 1-31.