Data de publicação
2009
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Os tapetes importados que encontramos com maior frequência nas fontes portuguesas do início do século XVI, apresentam desenhos baseados em motivos repetidos de grandes rodas - trata-se dos tapetes ditos de 'Holbein de grandes motivos', assim designados devido à representação de um destes tapetes por Hans Holbein o Jovem (1497-1543) no seu famoso retrato de Dinteville e George de Selve, de 1533. A relevante importância conferida ao tapete neste retrato de dois homens poderosos, influentes e cultos, sublinha o valor e a importância dos tapetes importados. Os seus padrões de campo compreendem tipicamente uma a dez ou mais "rodas", cada uma formada por um grande octógono inscrito num painel quadrado, com diferentes tipos de decoração entrelaçada no centro e preenchendo os cantos.

O gosto português por tapetes turcos encontra paralelo em outras partes da Europa nesta época, surgindo o motivo turco 'Holbein de grandes motivos' no rol do dote de D. Beatriz, filha de D. Manuel I, elaborado aquando do seu casamento com Carlos III, Duque de Sabóia, em 1522, bem como nos inventários dos bens da nova rainha portuguesa, D. Catarina de Áustria (1507-1578), no ano de 1528. A primeira representação de um tapete de "Holbein de grandes motivos" é provavelmente a que aparece numa Anunciação de Frei Carlos, datada de 1523 (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa). Embora as 'rodas' do campo não sejam visíveis, a cercadura de corações contrapostos é idêntica à encontrada em tapetes turcos com este desenho, como o que se encontra na famosa Missa de Santo Egídio, c. 1500 (National Gallery, Londres).

O desenho de "Holbein de pequenos motivos" não está de alguma forma relacionado com o motivo anterior, e compreende um padrão repetido de quadrifólios alternados com medalhões octogonais, delimitados por um entrecruzado angular. Hans Holbein o Jovem pintou este tapete no seu retrato de Goerg Gisz, um mercador alemão em Londres, 1532 (Staatliche Museen, Berlin); no entanto, esta não é a representação mais antiga deste tipo de tapetes, como observa John Mills, surgindo primeiramente em 1451 no fresco (severamente danificado) da autoria de Piero della Francesca na Igreja de S. Francisco em Rimini, e, pouco depois, em 1459, na Madona com o Menino de Mantegna na Igreja de S. Zeno em Verona. Um destes tapetes é referido no dote da Infanta D. Beatriz (1522) e outro no inventário do 5º Duque de Bragança, D. Teodósio I (m. 1563). Este último, descreve-os como "cheo de muitas Rozas grandes azues e amarelas perfiladas de branquo" e valendo seis vezes o valor atribuído a tapetes de Castela de dimensões comparáveis, reforçando o alto preço atribuído às importações turcas.

As representações de "Holbein de pequenos motivos" ocorrem vinte anos mais tarde que as de "grande padrão" como na Apresentação da Cabeça de São João Baptista de Gregório Lopes, c. 1538-39 (Igreja de São João Baptista, Tomar) e no S. Bernardo e S. Bento de Diogo Contreiras, c. 1540 (colecção particular). Estas datas são bastante tardias quando comparadas com a arte italiana, onde este tipo de tapetes está entre os primeiros tipos otomanos representados. Os tapetes de "Holbein" começam a surgir em meados de Quatrocentos, com o número de representações de tapetes de grandes motivos a atingir o seu auge no último quartel do século, e os de pequenos motivos no primeiro quartel de Quinhentos. No entanto, nas fontes portuguesas os tapetes de "Holbein de grandes motivos" não são tão comuns como os tapetes espanhóis de "rodas" ou os tapetes turcos de "pequenos motivos", o que sugere que os primeiros integrariam uma primeira vaga de importações. O momento de glória do tapete turco em Portugal se iniciou durante o reinado do Venturoso, culminando no segundo quartel do século XVI. Esta divergência com a tendência italiana pode ser explicada pela disponibilidade de tapetes espanhóis e portugueses de grande qualidade durante todo o século XV, bem como por factores económicos, uma vez que só no século XVI a crescente riqueza e as ligações comerciais amplificadas resultantes da Expansão teriam fomentado o interesse alargado na aquisição e exposição de adereços domésticos de luxo.

Bibliografia:
HALLETT, Jessica, "Tapetes orientais e ocidentais: intercâmbios peninsulares no século XVI", in O Largo Tempo do Renascimento: Arte, Propaganda e Poder, Vítor Serrão (coord.), Lisboa, Caleidoscópio, 2008, pp. 225-257. HALLETT, Jessica e PEREIRA, Teresa Pacheco (coords.), O Tapete Oriental em Portugal, tapete e pintura séculos XV-XVIII , Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/ Instituto dos Museus e da Conservação, catálogo de exposição, 2007. HALLETT, Jessica, "From Floor to Wall: An oriental carpet in a Portuguese mural painting of The Annunciation", in Out of the Stream: Studies in Medieval and Renaissance Mural Painting, Luís Urbano Afonso e Vítor Serrão (coords.), Newcastle, Cambridge Scholars Publishing, 2007, pp. 141-165. MILLS, John, "Eastern Mediterranean Carpets in Western Paintings", Hali, 4.1, 1981, pp. 53-55. MILLS, John, "Near Eastern Carpets in Italian Paintings", Oriental Carpet and Textile Studies, vol. 2, 1986, pp. 109-121.