Data de publicação
2009
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Os tapetes otomanos de oração (ou de túmulo) também alcançaram a Europa nos séculos XV e XVI. Dois pintores de nome Bellini evocam-nos; Gentile, foi o primeiro artista a representá-los na Virgem Entronizada com o Menino, c.1475-85 (National Gallery, Londres), embora seja provável que o Doge Loredan e os Quatro Conselheiros, datado de 1507 (Bode Museum, Berlim) tenha dado origem à designação. Estes pequenos tapetes são caracterizados pela presença de um grande arco que preenche o campo central, que se pensa simbolizar tanto a entrada para o paraíso como o mihrab, o nicho da mesquita que indica a orientação da oração para Meca. Uma ou várias lâmpadas, frequentemente suspensas do ápice do arco, e medalhões em forma de estrela, preenchem o centro e os cantos. Estes elementos têm sido interpretados como símbolos da Luz Divina, conforme descrito no "Versículo da Luz" (Alcorão 24:35). Na zona inferior, a faixa de guarda interior introduz o arco e forma um alto nicho de remate octogonal; é, justamente, esta forma semelhante a um buraco de fechadura (ou nicho octogonal reentrante) que igualmente deu origem às designações " buraco de fechadura" ou "reentrante" para este grupo de tapetes.
Embora mais de trinta retratos destes tapetes tenham sido registados em pinturas europeias datadas a partir do final do século XV e início do século XVI, nenhum exemplo foi identificado na arte portuguesa, com a possível excepção de uma pintura a fresco da Anunciação do final do século XVI (Antigo Convento das Maltezas, Estremoz). Estes tapetes foram, contudo, importados para Portugal em números substanciais, e a maioria dos tapetes enumerada no dote de Infanta Maria Manuel de 1522 é deste tipo. Todos estes sete tapetes apresentam campo vermelho com cercaduras verdes ou azuis, muitas vezes com nós brancos ("laços brancos") ou desenhos entrelaçados, e são relativamente pequenos na escala, sendo desta forma mais apropriados para a oração individual. Distinguem-se, também, pela presença de um "arco", "portal" ou "campanário" no centro - todas as descrições muito próximas de um mihrab de forma curvada ou angular - e em três dos tapetes, a presença de um objecto suspenso no arco (descrito como 'uma jarra' ou 'jarro') sugere a inclusão de uma lâmpada de mesquita no desenho, enquanto a ocorrência de motivos entrelaçados, flores e uma roda no centro, parecem indicar a presença de medalhões de estrela, como os que ostentam os tapetes de "Bellini" nas suas representações pictóricas.
Embora possa parecer paradoxal a sua presença em Portugal na casa real de Avis-Beja (r. 1495-1580/83), mais de vinte e cinco e até cinquenta anos depois da expulsão dos muçulmanos ordenada por D. Manuel I, é bastante claro que a sua associação com o Islão não era de particular relevância para a corte ou nobreza portuguesas. Três tapetes turcos (Xio) com inscrições do Alcorão também são registados no inventário do 5º Duque de Bragança, D. Teodósio I (m. 1563), e um grande tapete de mesquita congregacional índio foi usado e conservado num convento em Évora até 1903 (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
Bibliografia:
HALLETT, Jessica, "Tapetes orientais e ocidentais: intercâmbios peninsulares no século XVI", in O Largo Tempo do Renascimento: Arte, Propaganda e Poder, Vítor Serrão (coord.), Lisboa: Caleidoscópio, 2008, pp. 225-257. HALLETT, Jessica e PEREIRA, Teresa Pacheco (coords.), O Tapete Oriental em Portugal, tapete e pintura, séculos XV-XVIII, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/ Instituto dos Museus e da Conservação, catálogo de exposição, 2007. HALLETT, Jessica, "From Floor to Wall: An oriental carpet in a Portuguese mural painting of The Annunciation", in Out of the Stream: Studies in Medieval and Renaissance Mural Painting, Luís Urbano Afonso e Vítor Serrão (coords.), Newcastle, Cambridge Scholars Publishing, 2007, pp. 141-165. MILLS, John, "Near Eastern Carpets in Italian Paintings", Oriental Carpet and Textile Studies, vol. 2, 1986, pp. 109-121. MILLS, John, "Carpets in Paintings: The 'Bellini', 'Keyhole', or 'Re-entrant' Rugs", Hali, 58, 1991, pp. 86-103, 127-28.
Embora mais de trinta retratos destes tapetes tenham sido registados em pinturas europeias datadas a partir do final do século XV e início do século XVI, nenhum exemplo foi identificado na arte portuguesa, com a possível excepção de uma pintura a fresco da Anunciação do final do século XVI (Antigo Convento das Maltezas, Estremoz). Estes tapetes foram, contudo, importados para Portugal em números substanciais, e a maioria dos tapetes enumerada no dote de Infanta Maria Manuel de 1522 é deste tipo. Todos estes sete tapetes apresentam campo vermelho com cercaduras verdes ou azuis, muitas vezes com nós brancos ("laços brancos") ou desenhos entrelaçados, e são relativamente pequenos na escala, sendo desta forma mais apropriados para a oração individual. Distinguem-se, também, pela presença de um "arco", "portal" ou "campanário" no centro - todas as descrições muito próximas de um mihrab de forma curvada ou angular - e em três dos tapetes, a presença de um objecto suspenso no arco (descrito como 'uma jarra' ou 'jarro') sugere a inclusão de uma lâmpada de mesquita no desenho, enquanto a ocorrência de motivos entrelaçados, flores e uma roda no centro, parecem indicar a presença de medalhões de estrela, como os que ostentam os tapetes de "Bellini" nas suas representações pictóricas.
Embora possa parecer paradoxal a sua presença em Portugal na casa real de Avis-Beja (r. 1495-1580/83), mais de vinte e cinco e até cinquenta anos depois da expulsão dos muçulmanos ordenada por D. Manuel I, é bastante claro que a sua associação com o Islão não era de particular relevância para a corte ou nobreza portuguesas. Três tapetes turcos (Xio) com inscrições do Alcorão também são registados no inventário do 5º Duque de Bragança, D. Teodósio I (m. 1563), e um grande tapete de mesquita congregacional índio foi usado e conservado num convento em Évora até 1903 (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
Bibliografia:
HALLETT, Jessica, "Tapetes orientais e ocidentais: intercâmbios peninsulares no século XVI", in O Largo Tempo do Renascimento: Arte, Propaganda e Poder, Vítor Serrão (coord.), Lisboa: Caleidoscópio, 2008, pp. 225-257. HALLETT, Jessica e PEREIRA, Teresa Pacheco (coords.), O Tapete Oriental em Portugal, tapete e pintura, séculos XV-XVIII, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/ Instituto dos Museus e da Conservação, catálogo de exposição, 2007. HALLETT, Jessica, "From Floor to Wall: An oriental carpet in a Portuguese mural painting of The Annunciation", in Out of the Stream: Studies in Medieval and Renaissance Mural Painting, Luís Urbano Afonso e Vítor Serrão (coords.), Newcastle, Cambridge Scholars Publishing, 2007, pp. 141-165. MILLS, John, "Near Eastern Carpets in Italian Paintings", Oriental Carpet and Textile Studies, vol. 2, 1986, pp. 109-121. MILLS, John, "Carpets in Paintings: The 'Bellini', 'Keyhole', or 'Re-entrant' Rugs", Hali, 58, 1991, pp. 86-103, 127-28.