Data de publicação
2009
Categorias
Entradas associadas
Embora os tapetes turcos sejam predominantes na pintura quinhentista portuguesa (perfazendo dois terços das representações conhecidas), nenhum deles chegou aos nossos dias; nas colecções nacionais, apenas se encontram dois tapetes de medalhão de Ushak do século XVII e alguns fragmentos de um tapete de estrelas de Ushak (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
Criados inicialmente como objectos de luxo para a corte otomana no final do século XV, estes tapetes estão associados à cidade de Ushak (centro-oeste da Anatólia), o mais activo centro de produção de tapetes nos séculos XVI e XVII. Os tapetes de medalhão apresentam composições centralizadas com grandes medalhões contornados por colares e rematados por pendentes em cada extremidade, enquanto os tapetes de Estrela apresentam complexos desenhos de medalhões octofilos e motivos secundários em forma de diamante organizados em treliça. Ambos os tipos são distribuídos segundo a característica palete de cores "Ushak", na qual o vermelho-tomate, o azul-escuro e o amarelo dourado predominam; são cobertos por arabescos florais e flores dissolutamente polvilhadas, originalmente inspiradas nas iluminuras persas, encadernações e desenhos de tapetes.
As primeiras representações italianas destes tapetes turcos mostram-nos a cobrir os degraus diante do Doge Andrea Gritti na Devolução do Anel do Doge de Paris Bordone, de 1534 (Gallerie dell'Accademia, Veneza); os tapetes teriam provavelmente acabado de chegar a Veneza como ofertas diplomáticas. Na pintura portuguesa, são raras as representações exactas deste tipo de tapete; um tapete de medalhão com uma cercadura de bandas de nuvens pode ser visto no Julgamento de São Sebastião, do último terço do século XVI (Palácio Nacional de Sintra). Cópias bastante precisas de tapetes de Estrela e Medalhão são encontradas entre o reportório de modelos dos sobreviventes tapetes bordados portugueses (ou "Arraiolos"), que certamente atraíam a atenção da elite portuguesa. Pelo menos dois tapetes grandes de 'Ushak' com medalhões vermelhos sobre fundo azul estão registados no inventário do 5º Duque de Bragança, D. Teodósio I (m. 1563), e os elevados valores que lhes são atribuídos (28,000 réis e 20,000 réis) sublinham quer a sua grande qualidade e novidade, quer a sua generosa dimensão (c. 640 cm e 470 cm de comprimento), o que favorecia a sua exposição nas mais importantes salas do Paço Ducal de Vila Viçosa.
Bibliografia:
HALLETT, Jessica and PEREIRA, Teresa Pacheco (coords.), O Tapete Oriental em Portugal, tapete e pintura, séculos XV-XVIII, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/ Instituto dos Museus e da Conservação, catálogo de exposição, 2007. PEREIRA, Teresa Pacheco, Tapetes de Arraiolos, Lisboa, SILVIP, sem data. RABY, Julian, "Court and Export, Part I: Market Demands in Ottoman Carpets" e "Court and Export, Part II: The Usak Carpets", Oriental Carpet and Textile Studies, vol. 2, 1986, pp. 29-38 and pp. 177-187.
Criados inicialmente como objectos de luxo para a corte otomana no final do século XV, estes tapetes estão associados à cidade de Ushak (centro-oeste da Anatólia), o mais activo centro de produção de tapetes nos séculos XVI e XVII. Os tapetes de medalhão apresentam composições centralizadas com grandes medalhões contornados por colares e rematados por pendentes em cada extremidade, enquanto os tapetes de Estrela apresentam complexos desenhos de medalhões octofilos e motivos secundários em forma de diamante organizados em treliça. Ambos os tipos são distribuídos segundo a característica palete de cores "Ushak", na qual o vermelho-tomate, o azul-escuro e o amarelo dourado predominam; são cobertos por arabescos florais e flores dissolutamente polvilhadas, originalmente inspiradas nas iluminuras persas, encadernações e desenhos de tapetes.
As primeiras representações italianas destes tapetes turcos mostram-nos a cobrir os degraus diante do Doge Andrea Gritti na Devolução do Anel do Doge de Paris Bordone, de 1534 (Gallerie dell'Accademia, Veneza); os tapetes teriam provavelmente acabado de chegar a Veneza como ofertas diplomáticas. Na pintura portuguesa, são raras as representações exactas deste tipo de tapete; um tapete de medalhão com uma cercadura de bandas de nuvens pode ser visto no Julgamento de São Sebastião, do último terço do século XVI (Palácio Nacional de Sintra). Cópias bastante precisas de tapetes de Estrela e Medalhão são encontradas entre o reportório de modelos dos sobreviventes tapetes bordados portugueses (ou "Arraiolos"), que certamente atraíam a atenção da elite portuguesa. Pelo menos dois tapetes grandes de 'Ushak' com medalhões vermelhos sobre fundo azul estão registados no inventário do 5º Duque de Bragança, D. Teodósio I (m. 1563), e os elevados valores que lhes são atribuídos (28,000 réis e 20,000 réis) sublinham quer a sua grande qualidade e novidade, quer a sua generosa dimensão (c. 640 cm e 470 cm de comprimento), o que favorecia a sua exposição nas mais importantes salas do Paço Ducal de Vila Viçosa.
Bibliografia:
HALLETT, Jessica and PEREIRA, Teresa Pacheco (coords.), O Tapete Oriental em Portugal, tapete e pintura, séculos XV-XVIII, Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/ Instituto dos Museus e da Conservação, catálogo de exposição, 2007. PEREIRA, Teresa Pacheco, Tapetes de Arraiolos, Lisboa, SILVIP, sem data. RABY, Julian, "Court and Export, Part I: Market Demands in Ottoman Carpets" e "Court and Export, Part II: The Usak Carpets", Oriental Carpet and Textile Studies, vol. 2, 1986, pp. 29-38 and pp. 177-187.