Data de publicação
2013
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Nasceu no seio de uma família da nobreza oriunda da região de Entre-Douro-e- Minho, os Leites do Porto, que centraram os seus interesses nessa cidade, onde vários dos seus membros ocuparam cargos locais nos finais do século XV e no século XVI.

A partir da primeira ou segunda década do século XVI, António Leite iniciou a sua participação no projecto da expansão portuguesa no território da Berberia Ocidental, no quadro de possibilidades de obtenção de vantagens económicas e sociais que então se oferecia à nobreza através do serviço à Coroa. Terá primeiramente vivido em Tanger e Arzila, onde se casou com uma mulher de uma família aí radicada. Depois da conquista de Azamor pela expedição comandada por D. Jaime, duque de Bragança, em 3 de Setembro de 1513, Leite foi nomeado, em substituição de Nuno Gato, contador da cidade de Azamor, de Mazagão e Tite a 29 de Setembro de 1513, cargo que acumulou com o de juiz da alfândega da dita cidade, para o qual foi designado quinze dias depois. Com base no cargo de contador foi responsável pela logística da construção da fortaleza que então se edificou em Mazagão, com traçado dos irmãos Arruda.

A partir de 1516 aparece na documentação como responsável pela capitania de Mazagão, cargo para o qual só foi formalmente nomeado por carta régia, a 20 de Janeiro de 1520. Data desta época a doação que o monarca lhe concedeu de umas casas em Tavira e que inaugurou a sua relação patrimonial com o Algarve. Durante o exercício desta capitania teve vários conflitos com os capitães da vizinha Azamor, D. Álvaro de Noronha (1518-1525) e Jorge Viegas (1525-1529).

Em Setembro de 1929, António Leite é referido como capitão dessa cidade, certamente com carácter interino, pois não se conhece carta de nomeação. No contexto de ascenso dos poder dos xerifes saadidas, que ameaçavam tanto a presença portuguesa como o poder do sultão de Fez, participou, com intermediação judaica, nos tratos de paz que se concluíram com esse monarca, na Primavera de 1530. Contrapondo este sucesso, ainda em Abril desse ano, Azamor sofreu um poderoso cerco por parte das forças do xerife de Marraquexe. Em virtude da debilidade das defesas da cidade, António Leite terá sido obrigado a negociar a retirada do inimigo em termos humilhantes para a Coroa portuguesa. Por este facto foi muito criticado por alguns moradores, o que terá ensombrado a sua prestação. Em 5 de Junho desse mesmo ano foi substituído na governação por Pêro Mascarenhas.

António Leite passou novamente pela capitania de Mazagão. Um documento de Fevereiro de 1537, onde lhe era feita a mercê da comenda da Ordem de Cristo, da igreja de S. Miguel de Oliveira de Azeméis, no bispado do Porto, refere-o como capitão dessa praça. António Leite viria a ser formalmente nomeado capitão de Azamor em 17 de Setembro de 1537. Neste documento era designado como fidalgo da Casa Real, quando em anteriores era referido como cavaleiro, facto que reflecte ao sua ascensão social através do serviço à Coroa.

Por essa época há muito que os portugueses tinham sido remetidos para a defensiva perante o crescente reforço militar dos saadidadas. Neste contexto, depois de Santa Cruz do Cabo de Gué ter caído nas mãos do xerife do Sus, em Março de 1541, e perante o perigo a que as outras praças estavam sujeitas, a Coroa tomou medidas para reconfigurar a presença portuguesa no sul do território da Berberia Ocidental. Todas as praças da região foram então abandonadas, com excepção de Mazagão que sofreu para o efeito um grande engrandecimento. Perante a evacuação de Azamor, António Leite foi substituído por D. Fernando de Noronha, em 13 de Abril de 1541.

Como compensação pela capitania de Mazagão, que antes lhe tinha sido prometida, mas que depois do seu engrandecimento não estava ao alcance do estatuto de António Leite, D. João III fez-lhe em Agosto de 1542 a mercê da alcaidaria-mor de Santo António de Arenilha, pertencente à ordem de Cristo, localizada no Algarve, na foz do rio Guadiana, conjuntamente com a um terço da dízima do pescado por estrangeiros em Monte Gordo e uma tensa anual de sessenta e cinco mil reais.

A carreira de António Leite prolongou-se por quase todo o período da presença portuguesa no Norte de África, na primeira metade do século XVI, terminando em 1549, na capitania do projecto do forte do Seinal, no contexto da evacuação de Alcácer Ceguer, da qual ele foi um dos responsáveis.

HENRIQUES, Rui, “Quão grande trabalho é viver!”. António Leite – circuitos da nobreza portuguesa no sul de Marrocos (1513-1549), Lisboa, FCSH-UNL, 2012 (tese de mestrado).