Data de publicação
2009
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Membro da numerosa prole gerada por Garcia de Sousa Chichorro (alcaide-mor de Bragança, membro do Conselho e provedor do Hospital de Todos-os-Santos), Aleixo nasceu do segundo casamento que o pai contraiu com D. Brites da Silveira. Foi criado em casa da tia materna, D. Leonor de Miranda, cujo marido, o fidalgo castelhano João Ramirez de Arelhano, o acabou por perfilhar em 1526.
Aleixo de Sousa Chichorro dedicou-se, entretanto, ao serviço do Estado da Índia. Conquanto se ignore a data da sua primeira viagem transoceânica, as crónicas dão como certos os contributos que deu, em 1521, para ajudar a sufocar uma revolta do rei do Bahrein contra o rei de Ormuz e, para defender a fortaleza de Chaul dos ataques navais lançados a partir de Diu. Os ferimentos que lhe foram infligidos durante os últimos combates determinaram que ficasse com um dos braços aleijado, mas a situação não o impediu de continuar no activo.
Em 1528, recebeu mercê da capitania de Goa, na vagante dos providos, e integrou a armada que o governador Nuno da Cunha conduziu até ao Oriente. Como a navegação tivesse sido acidentada, implicando a perda da monção favorável para se rumar até à Índia, Nuno da Cunha deixou um grupo de homens a recuperarem forças na ilha de Zanzibar, dos quais Aleixo ficou por capitão. Reuniu-se posteriormente ao governador, na companhia de quem participou na tomada de Mombaça e se deslocou para o Golfo Pérsico. Aqui teve oportunidade de assumir a capitania de um dos navios da esquadra que foi encarregue de debelar novo levantamento do rei do Bahrein contra o rei de Ormuz.
A relação de Aleixo de Sousa Chichorro com Nuno da Cunha pautou-se por desentendimentos, tanto a nível pessoal como político, ainda antes de o primo Martim Afonso de Sousa ter tomado posse da capitania-mor do mar da Índia, em 1534, e se ter afirmado como o principal opositor do governador. Tais desinteligências parecem ter estado na origem da sua abdicação à capitania de Goa, tendo sido compensado pela Coroa com a nomeação para a capitania de Sofala, em Dezembro de 1536, altura em que se encontrava em Portugal.
O acesso ao lugar em causa continuava a depender da vagante dos providos. Na prática, Aleixo saiu de Lisboa, nos finais de 1537, como capitão de uma armada extraordinária, destinada a reforçar o dispositivo militar português contra uma ofensiva otomana, e assumiu funções logo que chegou à costa oriental africana. O exercício do mandato prolongou-se até 1541 e ficou marcado pelo favorecimento do meio-irmão Belchior de Sousa Chichorro, a quem fez feitor e alcaide-mor, e pelo envolvimento em negócios ilícitos, nomeadamente, no tráfico de ouro e de marfim, produtos sujeitos a monopólio régio.
Aleixo de Sousa Chichorro ainda estava em Moçambique quando a armada comandada pelo primo Martim Afonso de Sousa ali se demorou, entre Setembro de 1541 e Fevereiro de 1542, em trânsito para a Índia. A missão de Martim Afonso consistia em tomar conta do governo do Estado da Índia. Aleixo seguiu com ele para o Subcontinente e, num sinal claro da boa sintonia existente entre os dois, ocupou a vedoria da Fazenda, não obstante lhe faltar tanto experiência burocrática como formação jurídica.
Durante o mandato, Aleixo de Sousa Chichorro beneficiou da tolerância do primo para explorar negócios privados e foi solidário com ele na decisão de desvalorizar o bazaruco, a moeda de cobre que tinha circulação corrente em Goa. A medida induziu os vendedores de alimentos oriundos do interior e deixarem de frequentar o mercado local, pelo que começaram a ser cobrados preços exorbitantes pelos géneros, ficando penalizada a generalidade da população.
Foi com este cenário que se deparou D. João de Castro logo após ter assumido funções como governador, em Setembro de 1545, e que decidiu reverter depois da realização de várias consultas. Aleixo não foi escutado e deu largas à sua indignação. D. João de Castro reagiu através de um processo de inquérito à conduta do ex-vedor e à origem dos rendimentos por ele acumulados, desde o tempo em que fora responsável pela capitania de Sofala.
Aleixo de Sousa Chichorro iniciou a viagem de regresso a Portugal em Dezembro de 1545, logrando escapar à imposição de qualquer castigo na Índia. Há indícios de que foi necessária a ajuda de outro primo influente, o vedor da Fazenda e conde da Castanheira, D. António de Ataíde, para também não ser perturbado pela justiça em Portugal.
A morte de D. João III viabilizou a plena recuperação do fidalgo. Dotada com os poderes da regência, a rainha D. Catarina indicou-o para voltar à Índia, em 1558, na qualidade de vedor da Fazenda do vice-rei D. Constantino de Bragança e de capitão da respectiva armada. Circularam mesmo rumores de que o seu nome estaria inscrito na primeira via de sucessão do governo. Foi, no entanto, Aleixo de Sousa Chichorro quem veio a expirar no exercício de funções, a 12 de Março de 1560. A morte colheu-o a bordo do galeão em que se fazia transportar para a capital do Estado da índia, depois de ter estado em Cochim a superintender a carga das naus com destino ao Reino. Por ordem do vice-rei, o corpo foi sepultado na Sé de Goa.
Foi cavaleiro da Ordem de Cristo e membro do Conselho de D. Sebastião.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, «Aleixo de Sousa, Capitão de Sofala e Vedor da Fazenda da Índia», in Estudos de História, vol. V, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1977, pp. 189-201. CARVALHO, Andreia Martins de, Nuno da Cunha e os Capitães da Índia (1529-1538), Lisboa, FCSH-UNL, 2006, dissertação de mestrado policopiada. MIRANDA, Susana Münch, A Administração da Fazenda Real no Estado da Índia (1517-1640), Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem - A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada.
Aleixo de Sousa Chichorro dedicou-se, entretanto, ao serviço do Estado da Índia. Conquanto se ignore a data da sua primeira viagem transoceânica, as crónicas dão como certos os contributos que deu, em 1521, para ajudar a sufocar uma revolta do rei do Bahrein contra o rei de Ormuz e, para defender a fortaleza de Chaul dos ataques navais lançados a partir de Diu. Os ferimentos que lhe foram infligidos durante os últimos combates determinaram que ficasse com um dos braços aleijado, mas a situação não o impediu de continuar no activo.
Em 1528, recebeu mercê da capitania de Goa, na vagante dos providos, e integrou a armada que o governador Nuno da Cunha conduziu até ao Oriente. Como a navegação tivesse sido acidentada, implicando a perda da monção favorável para se rumar até à Índia, Nuno da Cunha deixou um grupo de homens a recuperarem forças na ilha de Zanzibar, dos quais Aleixo ficou por capitão. Reuniu-se posteriormente ao governador, na companhia de quem participou na tomada de Mombaça e se deslocou para o Golfo Pérsico. Aqui teve oportunidade de assumir a capitania de um dos navios da esquadra que foi encarregue de debelar novo levantamento do rei do Bahrein contra o rei de Ormuz.
A relação de Aleixo de Sousa Chichorro com Nuno da Cunha pautou-se por desentendimentos, tanto a nível pessoal como político, ainda antes de o primo Martim Afonso de Sousa ter tomado posse da capitania-mor do mar da Índia, em 1534, e se ter afirmado como o principal opositor do governador. Tais desinteligências parecem ter estado na origem da sua abdicação à capitania de Goa, tendo sido compensado pela Coroa com a nomeação para a capitania de Sofala, em Dezembro de 1536, altura em que se encontrava em Portugal.
O acesso ao lugar em causa continuava a depender da vagante dos providos. Na prática, Aleixo saiu de Lisboa, nos finais de 1537, como capitão de uma armada extraordinária, destinada a reforçar o dispositivo militar português contra uma ofensiva otomana, e assumiu funções logo que chegou à costa oriental africana. O exercício do mandato prolongou-se até 1541 e ficou marcado pelo favorecimento do meio-irmão Belchior de Sousa Chichorro, a quem fez feitor e alcaide-mor, e pelo envolvimento em negócios ilícitos, nomeadamente, no tráfico de ouro e de marfim, produtos sujeitos a monopólio régio.
Aleixo de Sousa Chichorro ainda estava em Moçambique quando a armada comandada pelo primo Martim Afonso de Sousa ali se demorou, entre Setembro de 1541 e Fevereiro de 1542, em trânsito para a Índia. A missão de Martim Afonso consistia em tomar conta do governo do Estado da Índia. Aleixo seguiu com ele para o Subcontinente e, num sinal claro da boa sintonia existente entre os dois, ocupou a vedoria da Fazenda, não obstante lhe faltar tanto experiência burocrática como formação jurídica.
Durante o mandato, Aleixo de Sousa Chichorro beneficiou da tolerância do primo para explorar negócios privados e foi solidário com ele na decisão de desvalorizar o bazaruco, a moeda de cobre que tinha circulação corrente em Goa. A medida induziu os vendedores de alimentos oriundos do interior e deixarem de frequentar o mercado local, pelo que começaram a ser cobrados preços exorbitantes pelos géneros, ficando penalizada a generalidade da população.
Foi com este cenário que se deparou D. João de Castro logo após ter assumido funções como governador, em Setembro de 1545, e que decidiu reverter depois da realização de várias consultas. Aleixo não foi escutado e deu largas à sua indignação. D. João de Castro reagiu através de um processo de inquérito à conduta do ex-vedor e à origem dos rendimentos por ele acumulados, desde o tempo em que fora responsável pela capitania de Sofala.
Aleixo de Sousa Chichorro iniciou a viagem de regresso a Portugal em Dezembro de 1545, logrando escapar à imposição de qualquer castigo na Índia. Há indícios de que foi necessária a ajuda de outro primo influente, o vedor da Fazenda e conde da Castanheira, D. António de Ataíde, para também não ser perturbado pela justiça em Portugal.
A morte de D. João III viabilizou a plena recuperação do fidalgo. Dotada com os poderes da regência, a rainha D. Catarina indicou-o para voltar à Índia, em 1558, na qualidade de vedor da Fazenda do vice-rei D. Constantino de Bragança e de capitão da respectiva armada. Circularam mesmo rumores de que o seu nome estaria inscrito na primeira via de sucessão do governo. Foi, no entanto, Aleixo de Sousa Chichorro quem veio a expirar no exercício de funções, a 12 de Março de 1560. A morte colheu-o a bordo do galeão em que se fazia transportar para a capital do Estado da índia, depois de ter estado em Cochim a superintender a carga das naus com destino ao Reino. Por ordem do vice-rei, o corpo foi sepultado na Sé de Goa.
Foi cavaleiro da Ordem de Cristo e membro do Conselho de D. Sebastião.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, «Aleixo de Sousa, Capitão de Sofala e Vedor da Fazenda da Índia», in Estudos de História, vol. V, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1977, pp. 189-201. CARVALHO, Andreia Martins de, Nuno da Cunha e os Capitães da Índia (1529-1538), Lisboa, FCSH-UNL, 2006, dissertação de mestrado policopiada. MIRANDA, Susana Münch, A Administração da Fazenda Real no Estado da Índia (1517-1640), Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem - A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada.