Data de publicação
2009
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Cavaleiro da Casa Real, integrou a armada de Pedro Álvares Cabral que chegou ao Brasil em 1500, deixando registo desse episódio. Nasceu por volta de 1450, talvez no Porto, e veio a morrer em Calecute em 1500.
Pêro Vaz era filho de Vasco Fernandes de Caminha, cavaleiro da casa do duque de Guimarães que exerceu as funções de recebedor-mor dos dinheiros das praças do Norte de África e na comarca de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e de mestre da Balança da Moeda do Porto. Se não nasceu nessa cidade, Pêro Vaz terá pelo menos aí vivido desde muito novo. Casou com Catarina Vaz de Caminha e teve dela uma filha, Isabel.
É provável que Caminha tenha participado na batalha de Toro com D. Afonso V, à frente de um contingente portuense, e que tenha sido na sequência da batalha, como recompensa pelos serviços prestados, que o rei o tenha nomeado ainda em Março de 1476 para mestre da Balança da Moeda do Porto, tomando o cargo quando o pai o deixasse. Foi mestre da Balança pelo menos a partir de 1479 e a nomeação foi depois confirmada por D. João II e D. Manuel I.
Em Novembro de 1497, Caminha esteve entre os eleitos pela Câmara do Porto para a discussão e redacção dos capítulos a apresentar às Cortes do ano seguinte, pelo que teria um papel de relevo na vida da cidade.
A 9 de Março de 1500, encontrava-se como escrivão a bordo da segunda armada enviada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral, saída do Tejo nesse dia. Viajava na nau do próprio capitão-mor e deveria ocupar o lugar de escrivão na feitoria a ser estabelecida em Calecute.
As embarcações seguiram até às Canárias e dali para Cabo Verde. A rota sofreu depois um desvio para oeste. Avistando terra a 22 de Abril, no dia 24 as naus ancoraram perto de Porto Seguro (baía Cabrália) e no dia seguinte entraram pela baía. Caminha é enviado a terra com os capitães Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias para devolver os dois índios Tupiniquim que tinham sido levados para bordo.
A viagem até Porto Seguro e os noves dias em que a armada ali permaneceu foram descritos por Pêro Vaz de Caminha numa carta que enviou ao rei, espécie de diário escrito entre 26 de Abril e 1 de Maio. Considerada por Jaime Cortesão o "auto de nascimento" do Brasil, é um dos três documentos que chegaram até nós, entre os vários que registaram os acontecimentos daquela Páscoa e que foram redigidos por outros membros da armada.
Os autores elogiam a destreza narrativa de Caminha, indício de uma boa prática de escrita. O escrivão retratou de forma pormenorizada as acções dos Portugueses, tais como as tentativas de contacto com os indígenas e os serviços religiosos próprios da quadra pascal. Descreveu o cenário, a fauna e acerca dos índios deixou uma imagem positiva. Mostrava-se encantado com as suas feições e com a sua nudez inocente, que chegava a comparar à de Adão. O facto de utilizar os africanos como termo de comparação pode apontar, senão para viagens anteriores à costa ocidental africana, pelo menos para um conhecimento de relatos dessas viagens. Na sua missiva sugeria também uma aparente facilidade de conversão dos indígenas ao Cristianismo e as vantagens do aproveitamento da terra. Para ele, o território que os portugueses pisavam seria uma ilha.
O envio desta carta a D. Manuel era entendido como uma prestação de serviços, pois no final aproveitava para rogar ao rei que pusesse fim ao degredo do seu genro, Jorge de Osório, em São Tomé.
Enquanto a embarcação de Gaspar de Lemos regressava a Lisboa com as cartas ao rei, papagaios e objectos indígenas, o resto da armada prosseguia no dia 2 de Maio para a Índia. Chegados a Calecute, Cabral encetou negociações com o Samorim, obtendo autorização para instalar a feitoria. Essa instalação suscitou a oposição dos mercadores muçulmanos, que tentaram boicotar o abastecimento de especiarias aos Portugueses e acabaram por, com a conivência do Samorim, perpetrar um ataque surpresa contra a feitoria no dia 16 de Dezembro de 1500. O ataque resultou na morte de cinquenta Portugueses, entre eles o feitor Aires Correia e o escrivão Pêro Vaz de Caminha. A feitoria seria depois instalada em Cochim.
Bibliografia:
AZEVEDO, Ana Maria de, "A Carta de Pêro Vaz de Caminha e o Encontro do «Outro»" in Oceanos, n.º 39, Julho/Setembro 1999, Lisboa, pp. 128-142. CORTESÃO, Jaime, A Carta de Pêro Vaz de Caminha, s. l., IN-CM, 1994. COUTO, Jorge, A Construção do Brasil, 2ª ed., Lisboa, Edições Cosmos, 1997. THOMAZ, Luís Filipe, "Calecute (ou Calicut)" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (direcção de Luís de Albuquerque), vol. I, s. l., Círculo de Leitores, 1994, pp. 161-168.
Pêro Vaz era filho de Vasco Fernandes de Caminha, cavaleiro da casa do duque de Guimarães que exerceu as funções de recebedor-mor dos dinheiros das praças do Norte de África e na comarca de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e de mestre da Balança da Moeda do Porto. Se não nasceu nessa cidade, Pêro Vaz terá pelo menos aí vivido desde muito novo. Casou com Catarina Vaz de Caminha e teve dela uma filha, Isabel.
É provável que Caminha tenha participado na batalha de Toro com D. Afonso V, à frente de um contingente portuense, e que tenha sido na sequência da batalha, como recompensa pelos serviços prestados, que o rei o tenha nomeado ainda em Março de 1476 para mestre da Balança da Moeda do Porto, tomando o cargo quando o pai o deixasse. Foi mestre da Balança pelo menos a partir de 1479 e a nomeação foi depois confirmada por D. João II e D. Manuel I.
Em Novembro de 1497, Caminha esteve entre os eleitos pela Câmara do Porto para a discussão e redacção dos capítulos a apresentar às Cortes do ano seguinte, pelo que teria um papel de relevo na vida da cidade.
A 9 de Março de 1500, encontrava-se como escrivão a bordo da segunda armada enviada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral, saída do Tejo nesse dia. Viajava na nau do próprio capitão-mor e deveria ocupar o lugar de escrivão na feitoria a ser estabelecida em Calecute.
As embarcações seguiram até às Canárias e dali para Cabo Verde. A rota sofreu depois um desvio para oeste. Avistando terra a 22 de Abril, no dia 24 as naus ancoraram perto de Porto Seguro (baía Cabrália) e no dia seguinte entraram pela baía. Caminha é enviado a terra com os capitães Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias para devolver os dois índios Tupiniquim que tinham sido levados para bordo.
A viagem até Porto Seguro e os noves dias em que a armada ali permaneceu foram descritos por Pêro Vaz de Caminha numa carta que enviou ao rei, espécie de diário escrito entre 26 de Abril e 1 de Maio. Considerada por Jaime Cortesão o "auto de nascimento" do Brasil, é um dos três documentos que chegaram até nós, entre os vários que registaram os acontecimentos daquela Páscoa e que foram redigidos por outros membros da armada.
Os autores elogiam a destreza narrativa de Caminha, indício de uma boa prática de escrita. O escrivão retratou de forma pormenorizada as acções dos Portugueses, tais como as tentativas de contacto com os indígenas e os serviços religiosos próprios da quadra pascal. Descreveu o cenário, a fauna e acerca dos índios deixou uma imagem positiva. Mostrava-se encantado com as suas feições e com a sua nudez inocente, que chegava a comparar à de Adão. O facto de utilizar os africanos como termo de comparação pode apontar, senão para viagens anteriores à costa ocidental africana, pelo menos para um conhecimento de relatos dessas viagens. Na sua missiva sugeria também uma aparente facilidade de conversão dos indígenas ao Cristianismo e as vantagens do aproveitamento da terra. Para ele, o território que os portugueses pisavam seria uma ilha.
O envio desta carta a D. Manuel era entendido como uma prestação de serviços, pois no final aproveitava para rogar ao rei que pusesse fim ao degredo do seu genro, Jorge de Osório, em São Tomé.
Enquanto a embarcação de Gaspar de Lemos regressava a Lisboa com as cartas ao rei, papagaios e objectos indígenas, o resto da armada prosseguia no dia 2 de Maio para a Índia. Chegados a Calecute, Cabral encetou negociações com o Samorim, obtendo autorização para instalar a feitoria. Essa instalação suscitou a oposição dos mercadores muçulmanos, que tentaram boicotar o abastecimento de especiarias aos Portugueses e acabaram por, com a conivência do Samorim, perpetrar um ataque surpresa contra a feitoria no dia 16 de Dezembro de 1500. O ataque resultou na morte de cinquenta Portugueses, entre eles o feitor Aires Correia e o escrivão Pêro Vaz de Caminha. A feitoria seria depois instalada em Cochim.
Bibliografia:
AZEVEDO, Ana Maria de, "A Carta de Pêro Vaz de Caminha e o Encontro do «Outro»" in Oceanos, n.º 39, Julho/Setembro 1999, Lisboa, pp. 128-142. CORTESÃO, Jaime, A Carta de Pêro Vaz de Caminha, s. l., IN-CM, 1994. COUTO, Jorge, A Construção do Brasil, 2ª ed., Lisboa, Edições Cosmos, 1997. THOMAZ, Luís Filipe, "Calecute (ou Calicut)" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (direcção de Luís de Albuquerque), vol. I, s. l., Círculo de Leitores, 1994, pp. 161-168.