Data de publicação
2011
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Conhecido desde a Antiguidade, o cravo-da-Índia é a flor do craveiro (Eugenia caryophyllata Thun., uma mirtácea). O termo provém da semelhança com o prego, ou cravo. Espontâneo nalgumas das ilhas Molucas (Makian, Ternate, Tidore e Bacan), só a partir do séc. XIV teve início a sua arboricultura para exportação, em resposta ao crescimento da procura euroasiática, e só no séc. XVIII foi cultivado com sucesso fora daquele arquipélago, em especial em Zanzibar, primeiro produtor mundial nos sécs. XIX-XX, Madagáscar e Brasil. O de melhor qualidade provinha da ilha de Makian, apontada como seu habitat original, ao passo que o de Bacan, outrora bravio, se refinara, subsistindo no séc. XVI craveiros silvestres na ilha de Halmahera e outras. Usado em culinária, perfumaria e farmacopeia desde o início do II milénio a.C., o cravo era a mais valiosa das especiarias de luxo. Para o obter, os chineses frequentaram as ilhas Molucas desde o séc. XIII, a par de mercadores muçulmanos e javaneses. Estes, no século XIV, colocaram as Molucas na órbita de Majapahit, até as ilhas começarem a ser visitadas por mercadores de Malaca, no século seguinte, em consonância com o aumento do consumo de cravo na Europa: as 30 a 35 t. importadas por Veneza e Barcelona, via Alexandria e Beirute, em fins do séc. XIV, passaram a 50 t. no séc. XVI. A conquista de Malaca em 1511 provocou a escassez e a alta momentânea dos preços do cravo no Índico e na Europa.
A observância da monção para Malaca e as exigências portuguesas em quantidade, qualidade e preço, suscitaram novos métodos na preparação e comercialização do cravo, como a separação da «cabeça», ou flor, do «bastão» ou pedúnculo, dando origem a duas variedades - «cravo-de-cabeça», melhor e mais procurado, e «cravo-de-bastão» -, evidenciando, já então, a dificuldade em escoar a totalidade da produção, problema com que, mais tarde, os holandeses serão confrontados. Também o sistema de pesos e medidas foi uniformizado, tendo os portugueses fixado um novo bar único de 273,105 kg. Durante o séc. XVI, a produção anual variou entre 2 e 7 mil bares (5.500 a 1.900 t.). Destes, Malaca escoava 70% a 80% para Cochim, Ormuz, portos do Guzerate (60% a 70% da produção mundial) e para a China (c. 20%). Nas Molucas era obtido a troco de tecidos indianos, «caxas» (contrafacção javanesa de sapecas, pequenas moedas de cobre chinesas), arroz e panos de algodão de Bima (Sumbawa).
Em 1522, António de Brito negociou com o sultão de Ternate a aquisição de toda a produção a preço tabelado. Em 1526, o vedor da fazenda, Afonso Mexia, proibiu o comércio de cravo a particulares enquanto a nau da coroa carregasse, mas permitiu à feitoria régia em Ternate vender excedentes que nela não coubessem. Realizando-se entre Goa e Ternate, a «viagem de Maluco» escalava portos de Java e Malaca. Os seus capitães, feitores e tripulantes, desfrutavam de isenção (liberdades) de certas quantidades de cravo. O monopólio assentava, pois, em bases pouco sólidas, sendo extinto nas Molucas, em 1539, depois de o ter sido em Malaca, em 1533, para todas as especiarias. Nesse intervalo, ao tentarem impor o cumprimento dos regimentos régios, os capitães das Molucas viram-se confrontados com a sublevação dos moradores portugueses apoiados pelos mercadores que ali iam de Goa e de Malaca. No desfecho do conflito, em 1539, cada mercador ficou obrigado a vender à coroa um terço do cravo carregado nas Molucas, sendo o transporte em navio da coroa onerado em 30% de frete (choquel) até Malaca.
Bibliografia:
LOBATO, M., «O cravo, as Molucas e os portugueses», in A epopeia das especiarias, IICT - Edições Inapa, Lisboa, 1999, pp. 104-130. PTAK, R., «Asian Trade in Cloves, c. 1500: Quantities and Trade Routes-A Synopsis of Portuguese and Other Sources», Francis A. Dutra e João Camilo dos Santos (eds.), The Portuguese and the Pacific, International Colloquium at Santa Barbara, Center for Portuguese Studies, UCSB, 1995, pp. 149-169. IDEM, «China and the Trade in Cloves, c.960-1435», Journal of the American Oriental Society 113, 1 (1993), pp. 1-13. SILVA, C. R. da, «The Portuguese and the trade in cloves in Asia during the sixteenth century», Stvdia, 46 (1987), pp. 133-156. THOMAZ, L. F., «Especiarias do Velho e do Novo Mundo», Le Portugal et l'Europe Atlantique, le Brésil et l'Amerique Latine, Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, XXXIV (1995), pp. 219-345. IDEM, «Maluco e Malaca», A. Teixeira da Mota (ed.), A viagem de Fernão de Magalhães e a Questão das Molucas, Lisboa, 1975, pp. 29-48.
A observância da monção para Malaca e as exigências portuguesas em quantidade, qualidade e preço, suscitaram novos métodos na preparação e comercialização do cravo, como a separação da «cabeça», ou flor, do «bastão» ou pedúnculo, dando origem a duas variedades - «cravo-de-cabeça», melhor e mais procurado, e «cravo-de-bastão» -, evidenciando, já então, a dificuldade em escoar a totalidade da produção, problema com que, mais tarde, os holandeses serão confrontados. Também o sistema de pesos e medidas foi uniformizado, tendo os portugueses fixado um novo bar único de 273,105 kg. Durante o séc. XVI, a produção anual variou entre 2 e 7 mil bares (5.500 a 1.900 t.). Destes, Malaca escoava 70% a 80% para Cochim, Ormuz, portos do Guzerate (60% a 70% da produção mundial) e para a China (c. 20%). Nas Molucas era obtido a troco de tecidos indianos, «caxas» (contrafacção javanesa de sapecas, pequenas moedas de cobre chinesas), arroz e panos de algodão de Bima (Sumbawa).
Em 1522, António de Brito negociou com o sultão de Ternate a aquisição de toda a produção a preço tabelado. Em 1526, o vedor da fazenda, Afonso Mexia, proibiu o comércio de cravo a particulares enquanto a nau da coroa carregasse, mas permitiu à feitoria régia em Ternate vender excedentes que nela não coubessem. Realizando-se entre Goa e Ternate, a «viagem de Maluco» escalava portos de Java e Malaca. Os seus capitães, feitores e tripulantes, desfrutavam de isenção (liberdades) de certas quantidades de cravo. O monopólio assentava, pois, em bases pouco sólidas, sendo extinto nas Molucas, em 1539, depois de o ter sido em Malaca, em 1533, para todas as especiarias. Nesse intervalo, ao tentarem impor o cumprimento dos regimentos régios, os capitães das Molucas viram-se confrontados com a sublevação dos moradores portugueses apoiados pelos mercadores que ali iam de Goa e de Malaca. No desfecho do conflito, em 1539, cada mercador ficou obrigado a vender à coroa um terço do cravo carregado nas Molucas, sendo o transporte em navio da coroa onerado em 30% de frete (choquel) até Malaca.
Bibliografia:
LOBATO, M., «O cravo, as Molucas e os portugueses», in A epopeia das especiarias, IICT - Edições Inapa, Lisboa, 1999, pp. 104-130. PTAK, R., «Asian Trade in Cloves, c. 1500: Quantities and Trade Routes-A Synopsis of Portuguese and Other Sources», Francis A. Dutra e João Camilo dos Santos (eds.), The Portuguese and the Pacific, International Colloquium at Santa Barbara, Center for Portuguese Studies, UCSB, 1995, pp. 149-169. IDEM, «China and the Trade in Cloves, c.960-1435», Journal of the American Oriental Society 113, 1 (1993), pp. 1-13. SILVA, C. R. da, «The Portuguese and the trade in cloves in Asia during the sixteenth century», Stvdia, 46 (1987), pp. 133-156. THOMAZ, L. F., «Especiarias do Velho e do Novo Mundo», Le Portugal et l'Europe Atlantique, le Brésil et l'Amerique Latine, Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, XXXIV (1995), pp. 219-345. IDEM, «Maluco e Malaca», A. Teixeira da Mota (ed.), A viagem de Fernão de Magalhães e a Questão das Molucas, Lisboa, 1975, pp. 29-48.