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2009
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Ministro residente em Londres e secretário de Estado de D. Afonso VI. Oriundo da vila de Amarante, nasceu na cidade do Porto em 1606, tendo morrido 76 anos depois, em 1682. Jaz sepultado no convento franciscano de Nossa Senhora de Jesus.

Descendente de boas famílias (o seu pai, Gonçalo de Sousa de Macedo seria fidalgo da casa real, juiz da coroa e da fazenda e contador-mor do reino), teve uma educação jesuíta, no Colégio de Santo Antão. Formou-se posteriormente em Direito Civil, exercendo advocacia em Coimbra, por pouco tempo, ao que enveredou pela carreira de magistrado, seguindo em Lisboa a carreira de seu pai, como desembargador dos agravos na Casa da Suplicação, a partir de 1646. Foi igualmente conselheiro da fazenda, juiz das justificações do reino e Familiar do Santo Ofício.

Casou-se com D. Maria le Mercier, filha de João le Mercier - natural do condado de Hainaut - e de D. Ana de Bois.

Em 1641 integrou, como secretário, a primeira embaixada portuguesa a Londres após a Restauração. No fim desta, em 1642, permanece na capital inglesa durante quatro anos, como ministro residente, representante de menor dignidade, sendo de um modo geral o substituto, de carácter permanente, do embaixador ordinário. Durante o século XVII a actividade diplomática entre estados conheceu um aumento significativo, tanto pelo clima de antagonismo religioso como pela rivalidade política e comercial que grassava a Europa da época. Após a Restauração, particularmente, a acção dos diplomatas portugueses foi de crescente importância, sendo responsáveis pela aproximação e legitimação da nova dinastia perante as outras potências, assumindo uma preponderância determinante no futuro da coroa. Com a embaixada a Londres, os portugueses esperavam obter o reconhecimento inglês e a neutralidade inglesa no conflito ibérico, assim como a confirmação das tréguas na Índia, celebradas em 1635 entre o vice-rei português e o presidente da CII. Era o máximo que podiam almejar, dado que não poderiam receber qualquer ajuda militar face às amigáveis relações anglo-espanholas.

As negociações duraram vários meses, pois simultaneamente, chegou a notícia a Londres de que, pelo tratado luso-holandês de 1641, foram feitas grandes concessões aos holandeses nos territórios ultramarinos; estas garantiam mais privilégios aos holandeses do que os ingleses tinham obtido no acordo de 1635. Desta forma, estes passam a exigir que as regalias atribuídas aos holandeses fossem também estendidas a si, arrastando as negociações por algum tempo. Aceites estas reivindicações, foi assinado o tratado a 29 de Janeiro de 1642, no que representou o reconhecimento inglês de que se havia operado uma mudança na situação política, o que não significava contudo, o seu reconhecimento da Restauração.

Após a assinatura do tratado de 1642, os representantes diplomáticos portugueses seguiram caminhos diferentes, tendo o Dr. António de Sousa de Macedo permanecido em Londres durante os próximos quatro anos como ministro residente.

A sua residência coincidiu com uma época de forte turbulência interna no reino inglês, marcada pela guerra civil que opunha os apoiantes da causa parlamentar contra Carlos I e os seus partidários, estes últimos com o apoio da coroa portuguesa. Mantendo contactos regulares com o monarca inglês, António de Sousa de Macedo procurou (juntamente com o embaixador extraordinário português na Holanda, Andrade de Leitão) adquirir armas na Holanda e fornecê-las de forma sigilosa a Carlos I. Por outro lado, actuou como meio de comunicação entre este e a rainha Henriqueta Stuart (que procurava meios de socorros na Holanda e em França) e vice-versa, o que colocava o ministro português em constante perigo. De facto, quando os parlamentares, em meados de 1645, invadiram o escritório do monarca e analisaram a sua correspondência, Sousa de Macedo ficou com uma posição fragilizada perante o parlamento.

A actuação de António de Sousa de Macedo incidiu sobre vários parâmetros. Em finais de 1644 tentou projectar o casamento entre o príncipe galês Carlos, herdeiro da coroa, com uma das infantas portuguesas, o que não veio a efectivar-se (apesar da aparente receptividade inglesa) em consequência do agravamento do conflito interno que grassava em Inglaterra. Numa outra vertente, procurou a mediação de Carlos I com o poder espanhol para a libertação do infante D. Duarte (irmão de D. João IV, preso pelos castelhanos em Milão), oferecendo como recompensa 50 mil libras, negócio que foi aceite pelo monarca britânico, mas que não teve o sucesso desejado. Trabalhou igualmente na nomeação de um embaixador inglês para Lisboa, o que foi obtido no último quartel de 1645, com a designação de Henry Compton, no que representou uma importante conquista no contexto do processo de legitimação da nova dinastia. Por outro lado, Sousa de Macedo teve de intervir, por várias vezes, junto do parlamento de forma a evitar a saída de expedições inglesas com destino ao norte do Brasil. Regressou a Lisboa em meados de 1646, passados quatros anos (mais um que o triénio natural de uma residência), sobretudo devido à pressão e antagonismo do partido inglês no poder, juntamente com a ausência de assuntos de maior importância que requeressem a sua permanência.

Falhou os objectivos de estabelecer uma liga com a França e a Inglaterra contra Castela, de colocar D. João IV, juntamente com Luís XIV, como mediador entre Carlos I e o parlamento, assim como não alcançou, de igual modo, a libertação de D. Duarte. No entanto, obteve o estreitamento das relações das duas coroas e o envio de um embaixador inglês para Lisboa. O seu desempenho no auxílio ao rei britânico seria, posteriormente, reconhecido por Carlos II, que a 28 de Junho de 1661 gratificou o seu filho (e respectivos herdeiros), Luís Gonçalo de Sousa de Macedo, com o título de barão de Mullingar, na Irlanda.

Depois de quatro anos, a sua carreira diplomática prosseguiu, agora como embaixador na Holanda, durante os anos de 1650-51.

Em Haia, não foi recebido oficialmente durante os primeiros cinco meses, não lhe sendo concedida a isenção de direitos, como era prática perante os representantes estrangeiros, dado que naquela altura, culpava-se a coroa portuguesa de apoiar a revolta de Pernambuco contra o domínio holandês, que acabaria por cessar em 1654. Paralelamente, os holandeses preparavam uma força naval para actuar na Europa e na América em auxílio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, pretendendo desta forma exercer pressão sobre o embaixador português para que aceitasse a proposta holandesa de restauração da sua Companhia no território brasileiro.

António de Sousa de Macedo é recebido pelo poder holandês nos primeiros dias de Março de 1651, desenvolvendo ao longo daquele mês longas negociações para um entendimento de paz. Pelo acordo de paz, os holandeses chegaram a propor, a restituição de S. Tomé e dos territórios brasileiros, juntamente com o domínio da Companhia Holandesa sobre a zona do litoral africano, compreendida entre o cabo Lopo Gonçalves e o Rio Quanza, a sul do Equador; para além do mais, pretendiam a entrega de gado e de mil caixas de açúcar por ano durante um período de dez anos como contrapartida pelas perdas sofridas pela sua Companhia. A contra-proposta do embaixador português incidiu na recusa da restituição dos territórios brasileiros, que era compensada com o pagamento de 8 milhões à Companhia, 800 mil libras para os órfãos da Zelândia, liberdade de comércio no Brasil e o contrato de sal com Setúbal, como era pretensão antiga dos holandeses. Não chegando a um entendimento, e sabendo os holandeses que as instruções régias a António de Sousa de Macedo lhe davam o poder para oferecer a restituição dos territórios brasileiros, este, a 25 de Março, passa a não ser reconhecido oficialmente como embaixador, partindo a 12 de Maio para Hamburgo fim de ali viajar para Portugal, pondo termo à sua embaixada.

Com a subida ao trono de D. Afonso VI, em Junho de 1662, Sousa de Macedo foi nomeado para secretário de estado, substituindo o demissionário Pedro Vieira da Silva. Castelo-Melhor gratifica-o com as comendas de S. Tiago de Souzelas, na Ordem de Cristo, e de Santa Eufémia, de Penela, na Ordem de Aviz, a que adiciona posteriormente a alcaidaria-mor de Freixo de Numão. Conjuntamente com o seu cargo no governo de Castelo-Melhor, assumiu a função de director e redactor do periódico Mercúrio Portuguez, que saiu entre 1663-66 e cuja temática incidia sobre a restauração portuguesa.

O seu tempo no governo chegaria ao fim em virtude de um desentendimento com a rainha D. Maria Francisca. Em virtude deste, passou um breve período no desterro, sendo incorporado novamente na administração da coroa. Contudo, as contínuas pressões da rainha e do infante D. Pedro culminariam no seu afastamento definitivo, a 5 de Outubro de 1667.

Para além de estadista e diplomata, foi uma personagem de vasta cultura, escrevendo obras de poesia, filosofia e política, das quais se destacam: Flores de España, Excelencias de Portugal (1631); Genealogia Regum Lusitaniæ (1643); Lusitana Liberata (1645) - em que defende os direitos de D. João IV ao trono português, descrevendo igualmente os acontecimentos da Restauração; Armonia Politica (1651); Mercurios Portuguezes (Janeiro 1663-Dezembro 1666); Eva e Ave, ou Maria triumphante, (1676).

Bibliografia:
PRESTAGE, Edgar, O Dr. António de Sousa de Macedo: Residente de Portugal em Londres, 1642-46, Lisboa, 1916. Idem, As Relações Diplomáticas de Portugal com a França, Inglaterra e Holanda de 1640 a 1668, Coimbra, Impr. da Universidade, 1928. MACEDO, António de Sousa de, D. Afonso VI, intr. de Euardo Brazão, Porto, Civilização, 1940; Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão, Porto, Figueirinhas, vol. IV, 1984-2000, pp. 112-113.