As ligações externas ocorridas entre os Reinos inglês e português remontavam à fundação deste último, à qual a monarquia inglesa, com o seu auxílio militar, esteve intimamente ligada. Contudo, as relações entre as duas Coroas somente conheceram resultados concretos a partir do século XIV, sob o signo de tratados e acordos. A centúria de Quatrocentos iria acentuar a proximidade comercial entre as duas Coroas, já consubstanciada no acordo de comércio de 1294, que se estenderia em 1353, no primeiro tratado de comércio luso-inglês, e em 1373, no tratado de amizade e aliança defensiva. A aproximação à Inglaterra foi encarada como a única alternativa face à pressão da Coroa castelhana, sendo celebrado em 1386 a primeira ligação diplomática extra-ibérica do Reino português, com o tratado de Windsor e o casamento de D. João I com Filipa de Lencastre, que lançou as bases da política externa portuguesa até à união das Coroas ibéricas.
Durante o reinado de D. João I, o relacionamento bilateral dos dois Reinos centrou-se sobretudo em termos militares, numa primeira fase, com o apoio sobre a defesa da independência portuguesa e, posteriormente, no auxílio às suas investidas ultramarinas. Contudo, o alvorecer da expansão portuguesa e o consequente acentuar duma direcção atlântica, em conjunto com a turbulência interna (Guerra das Rosas) e externa inglesa (Guerra dos Cem anos), originaram um progressivo afastamento diplomático entre os dois Reinos durante todo o século XV. Destacou-se neste período o envio de uma embaixada em 1482, liderada por João de Elvas, que se traduziu na ratificação do tratado de Windsor, sendo o monarca português doravante designado como senhor da Guiné, refreando de forma momentânea o interesse inglês naquela região.
Até à união ibérica de 1581, o relacionamento luso-inglês incidiu sobre as movimentações inglesas no espaço ultramarino português. De facto, não obstante uma maior focalização interna, característica dos reinados de Henrique VII (1485-1509) e VIII (1509-47), foi a partir deste período que se verificou o crescente interesse dos súbditos ingleses no Atlântico, cuja presença se sentiu durante todo o século XVI, no golfo da Guiné e no Atlântico Norte. Esta pretensão comercial inglesa, de cariz transatlântico, originou um conflito com os interesses portugueses estabelecidos, o que desencadeou um constante contacto diplomático, de queixas e negociações, que culminou no tratado de 1576.
Esta primeira fase da aliança entre os dois Reinos viveu assim variados momentos, marcados por ajudas recíprocas e tensões latentes, que quase originaram a ruptura da ligação entre os dois Reinos. As ligações diplomáticas eram pois fundadas num interesse tácito de defesa das posições europeias e atlânticas de ambas as Coroas, que se esfumavam quando as conjunturas externas ou a redefinição de prioridades e hierarquias assim o exigiam.
A união ibérica significou, em termos de política externa, a absorção dos interesses portugueses pela agressiva política hispânica na Europa, o que se repercutiu no envolvimento do Reino português em querelas no velho Continente e no Ultramar com vários Reinos europeus, opostos à linha externa hispânica. Neste sentido, o antagonismo luso-inglês adensou-se de sobremaneira durante os sessenta anos de governação filipina, o que se traduziu no findar das ligações entre os dois Reinos. Esta situação traduziu-se no incremento das actividades de comércio e pirataria britânicas nas regiões de jurisdição portuguesa, em particular no continente asiático, apesar das pazes anglo-espanholas de 1604 e 1630. De facto ali, por intermédio de uma companhia comercial privada, a East India Company, os britânicos introduziram-se nos mercados asiáticos, nomeadamente na Insulíndia, no Coromandel, no Guzerate e no Golfo Pérsico. Se na primeira região, a presença portuguesa era incipiente, e como tal não existiram grandes conflitos, nas restantes regiões foi desencadeado um forte antagonismo, sendo uma constante o apresamento de embarcações e mercadorias portuguesas por parte dos britânicos. Estes edificaram várias feitorias no Coromandel (Masulipatão e Petapoli - 1611, Armagon - 1626, e Madrasta - 1639), que juntamente com as acções neerlandesas, forçaram o recuo da presença portuguesa. Por sua vez, no Guzerate, a actividade britânica centrou-se em Surrate, onde é erguida uma feitoria em 1618. A sua posição nesta praça, potencializava a presença britânica naquela região, assim como no Norte do território indiano e Mar Vermelho, não sendo de estranhar que os Portugueses tivessem procurado, sem sucesso, expulsá-los em 1612 e 1615. O mesmo insucesso tiveram em Jask, Pérsia, em 1620, tendo a presença britânica naquela região sido bastante prejudicial, patente no seu auxílio a uma armada naval persa que culminaria com a expulsão portuguesa de Ormuz em 1622. Numa outra perspectiva, os britânicos a partir de 1619 aliaram-se aos Neerlandeses, tendo atacado as embarcações da Carreira da Índia, bloqueado Goa e Moçambique (1621-23) e investido sobre Bombaim (1626).
A Convenção de Goa de 1635 e o movimento restaurador português de 1640 reaproximou as duas Coroas no Ultramar e na Europa. Se a primeira marcou o apaziguamento das hostilidades na Ásia, o segundo significou o estreitamento de relações com o Reino Unido (assim como com a outras potências europeias) no seguimento da diplomacia de restauração portuguesa. No entanto, esta aproximação foi condicionada pela conjuntura interna inglesa. Esta foi marcada pela guerra civil (que opunha o rei aos parlamentares) durante a década de 1640, tendo sido bastante escassa a diplomacia bilateral entre as duas Coroas, apesar do tratado de paz e comércio de 1642. Por outro lado, no seguimento da derrota da monarquia britânica, dois príncipes palatinos e parte da armada real inglesa, dissidentes do novo poder, instalaram-se no estuário do Tejo, onde atacaram embarcações parlamentares, numa situação que antagonizou de forma extrema as relações entre os dois antigos aliados, verificando-se o conflito directo entre ambos. Na sequência destes acontecimentos a Coroa portuguesa procurou aproximar-se da Republica britânica, o que se consubstanciaria no tratado de 1654, a partir do qual aquela passaria a assumir-se como o esteio principal da política externa portuguesa.
Mais tarde, em 1660, o embaixador português em Londres acordou um tratado com o Conselho de Estado britânico, governo de transição até à restauração da monarquia. Este acordo, que não viria a ser ratificado pelo novo monarca britânico, Carlos II, enquadrou-se numa tentativa de apoio mais concreto entre as duas Coroas, o que passaria pela união de ambas e de um tratado de aliança, que viria a ser obtido no tratado de 1661. Este seria decisivo na manutenção da independência portuguesa (com o auxílio militar britânico e a sua mediação das pazes ibéricas, celebradas em 1668), assim como consagrava o auxílio britânico nas possessões asiáticas contra as Províncias Unidas.
Após as pazes de 1668, os problemas da economia do Reino juntamente com o seu afastamento dos confrontos militares europeus fizeram com que a Coroa portuguesa adoptasse uma política de distanciamento, imiscuindo-se de qualquer participação militar na Europa até à Guerra de Sucessão espanhola. Desta forma, o Reino português absteve-se de tomar qualquer participação aquando da revolução britânica de 1688, tendo reconhecido dois anos depois o monarca Guilherme de Orange, protestante, que havia ascendido ao trono.
No entanto, a crise sucessória espanhola colocaria, inevitavelmente, a Coroa portuguesa na rota dos conflitos europeus. Numa primeira instância, em meados de 1701, esta posicionou-se ao lado da França e da monarquia hispânica no apoio a Filipe de Anjou, opondo-se às Províncias Unidas e ao Reino Unido. No entanto, as pressões britânicas, as derrotas sofridas pelos franceses e a recusa destes aos apoios pedidos pelos Portugueses, conduziram a uma inversão posicional da Coroa portuguesa, que em Maio de 1703 uniu-se a Neerlandeses, Britânicos e Austríacos, numa liga ofensiva e defensiva. Na sequência destas negociações, o enviado britânico a Lisboa, John Methuen, negociou igualmente um tratado comercial entre as duas Coroas. Com o acordo, os Portugueses granjearam vantagens na introdução dos seus vinhos nos mercados britânicos, ao passo que estes obtinham vantagens relativamente aos seus lanifícios no Reino português. O conflito sucessório espanhol durou vários anos, tendo sido o território português invadido por algumas ocasiões. Os confrontos terminariam em 1715, pela paz de Utrecht, onde a Coroa portuguesa conseguiu a aceitação francesa do seu domínio sobre as duas margens do rio Amazonas, assim como a restituição da colónia de Sacramento, por parte dos espanhóis.
Com a subida ao trono de D. João V, a Coroa portuguesa adoptou uma estratégia de afastamento dos conflitos europeus, o que implicou o seu distanciamento do Reino Unido, facto que não impediu que estes fossem os mediadores das pazes aquando do conflito luso-espanhol de 1734-37. Com D. José, a política neutral foi abandonada, o que implicou o envolvimento da Coroa na Guerra dos Sete Anos, num confronto que opôs a França ao Reino Unido. O território português foi novamente invadido, tendo os britânicos auxiliado a Coroa portuguesa por intermédio de dinheiro, material bélico e forças militares. O conflito terminou com o tratado de Fontainebleau, a 3 de Novembro de 1762, onde os britânicos negociaram em nome de Portugal, que não foi tido como signatário do tratado. Posteriormente com D. Maria I, pretendeu-se regressar a uma política de neutralidade, que havia produzido bons resultados com D. João V na primeira metade do século. O Reino português manteve-se assim afastado da guerra de independência dos Estados Unidos da América sendo, contudo, forçado a tomar uma posição com a eclosão da Revolução Francesa de 1789.
Bibliografia:
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Data de publicação
2009
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Autoria da imagem
Alexandra Pelúcia
Legenda da imagem
Vista da ponte da torre de Londres