Data de publicação
2009
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Período
Área Geográfica
4.º bispo de Cabo Verde

Era carmelita, licenciado em teologia e presbítero em Lisboa, além de pertencer ao Conselho do Rei. Foi confirmado em consistório em 8 de Agosto de 1588 e sagrado no mesmo ano no convento do Carmo, seguindo logo depois para a diocese. Recebeu acrescentamento de 200.000 réis, além de 100.000 réis para reparar as instalações do paço episcopal. Foi acompanhado por comitiva familiar e clerical que incluía confrades carmelitas, além de ter licença para levar um religioso que lesse casos de consciência. Por suas instâncias, vários ofícios e dignidades eclesiásticas viram as suas côngruas aumentadas, além de que foi cabimentado dinheiro para a fábrica da sé e das igrejas da vila da Praia e de S. Filipe na ilha do Fogo. O seu exercício pastoral revelou-se muito acidentado, tendo entrado em conflito aberto com os principais moradores locais, o que motivou o seu regresso a Lisboa c. de 1593. Acusou os moradores de comerem carne em dias solenes e mesmo de fazerem festas públicas com iguarias de carne, além de darem carne aos seus escravos para comer no tempo da Quaresma, costume este que se teria iniciado em «hua grande fome que ouue nesta ilha». Informa que a absolvição neste interdito era de reserva episcopal, mas que a pena de 200 réis tinha sido sempre de fácil obtenção, pelo que os moradores não se reformavam neste costume. Entre estes acusa vários rendeiros cristãos-novos de serem contumazes nesta prática, matéria que envia para ser apreciada no Santo Ofício. Esta denúncia não terá sido do agrado da sociedade local. Contudo, foram os «tratos e mercâncias» praticados por D. Fr. Pedro Brandão que o incompatibilizaram com os principais moradores. É acusado de armar anualmente navios para a Guiné, onde comprava escravos que vendia em Santiago, além de ter açougue privado, cujos couros vendia para a ilha da Madeira. Mais é acusado de mandar cobrar penas pelos visitadores aos escravos que confessavam comer carne, donde resultava o grande acanhamento dos cativos nas suas confissões, além de também cobrar pena pecuniária pelas visitações às igrejas. As queixas chegam rapidamente de Santiago à Mesa da Consciência e Ordens e daqui saem para os governadores do Reino. Manteve igualmente conflito com o capitão-mor de Santiago sobre o lugar que este oficial régio devia ocupar nas igrejas nos dias solenes. Em Lisboa, o bispo continuava a comerciar e a gerir o bispado à distância, nomeadamente através da apresentação de eclesiásticos da sua confiança para o cabido ou para o ofício de visitadores, direito que os deputados da Mesa da Consciência e Ordens pretendiam que lhe fosse retirado. Correspondia-se com estes homens de confiança que lhe davam notícia dos principais acontecimentos, face ao que reagia, sendo sempre consultado ou ouvido nos assuntos mais prementes da diocese. Na capital instituiu um morgado com os cabedais que o comércio lhe permitira acumular. O conflito agudizou-se e o regresso do bispo era impossível. Na corte deu-se tratamento rigoroso a este assunto: pretendia-se que D. Fr. Pedro renunciasse e que o seu caso fosse exemplar para outros prelados ultramarinos que incorriam nas mesmas acusações, nomeadamente o bispo de S. Tomé Fr. Gaspar Cão. O assunto chegou a Roma mas nem mesmo uma carta do papa Clemente VIII a exortá-lo a regressar à diocese surtiu efeito. O bispo viria a morrer em Lisboa em 1606, sendo sepultado na igreja do convento do Carmo. O destino do seu avultado espólio seria alvo de acesa polémica entre a Coroa e a colectoria apostólica, mas seria um dos seus sucessores que viria a ganhar direito ao mesmo na justiça a favor da diocese de Cabo Verde.

Bibliografia:
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