Data de publicação
2009
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2º conde da Neiva, 8º conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança, era filho ilegítimo de D. João I (na altura ainda Mestre de Avis) e de Inês. Nasceu entre os anos de 1371 e 1377 no castelo de Veiros, em Estremoz. Foi ali criado por sua mãe e mais tarde em Leiria Gomes Martins de Lemos, conselheiro régio.
Quando em 1387 D. João I casou com D. Filipa de Lencastre os bastardos régios foram admitidos na corte. A sua mãe, Inês Pires, ingressou por, esta altura, no Convento de Santos-o-Velho. Apesar disso, D. Afonso optou por continuar a viver em Leiria, talvez por se sentir inferior na sua condição de bastardo. Seria, aliás, uma atitude constante ao longo da sua vida: preferia gerir as questões da corte à distância, através das suas alianças.
Durante a adolescência, D. Afonso acompanhou o pai no cerco a Tui, cidade na qual foi armado cavaleiro a 26 de Julho de 1398.
Em 1401 foi legitimado pelo rei e, um mês depois, a 8 de Novembro, casou com D. Beatriz Pereira, única herdeira do condestável D. Nuno Álvares Pereira. O condestável doou ao casal todos os bens que possuía a norte do rio Douro aos quais se juntavam os termos de Neiva e Faria, já anteriormente doados pelo rei ao seu filho. D. João I aprovou ainda a cedência do título de conde de Barcelos de D. Nuno Álvares Pereira para D. Afonso. Os novos condes de Barcelos fixaram a sua residência em Chaves, onde nasceram os seus filhos (D. Isabel, que casou com o infante D. João; D. Afonso, conde de Ourém e D. Fernando, conde de Arraiolos), embora passassem grandes temporadas em Guimarães e Barcelos.
Em 1405, D. Afonso acompanhou a irmã, D. Beatriz a Inglaterra onde esta casou com Thomas Fitz Alan, conde de Arundel, parente próximo da rainha D. Filipa de Lencastre. Ao casamento, realizado em Londres pelo Arcebispo da Cantuária, assistiu toda a família real inglesa.
Entre 1406 e 1409, D. Afonso empreendeu uma viagem à Terra Santa, tendo passado por Castela, Aragão, França, Veneza, Hungria, Polónia e o Sacro Império Romano Germânico. Há notícias de que durante este périplo, D. Afonso ajudou o Imperador Segismundo da Alemanha na guerra contra os Turcos.
D. Afonso teve uma importante participação na conquista de Ceuta, em 1415, tendo sido o encarregado de recrutar gente em Trás-os-Montes e Entre-Douro-e-Minho. Regressou à praça em 1419, acompanhando os irmãos D. Henrique e D. João, por esta se encontrar cercada.
Viúvo (D. Beatriz morreu de parto entre 1409 e 1415), o conde de Barcelos voltou a casar, a pedido de seu pai, em 1420, com sua prima, D. Constança de Noronha, filha do conde de Gijón e de D. Isabel, filha natural do rei D. Fernando.
O ano de 1422 foi de importância vital para a constituição da Casa de Bragança. A 4 de Abril, o condestável D. Nuno Álvares Pereira fez doação aos seus netos do condado de Ourém e de Arraiolos e respectivos domínios e direitos. D. Afonso passou, assim, a ser o único dos filhos de D. João I a ter filhos titulados, situação que lhes conferia a possibilidade de desdobrar várias alianças.
Em 1432, o infante D. Duarte pediu aos seus irmãos aos condes de Barcelos, Ourém e Arraiolos, conselho sobre uma intervenção militar portuguesa: a prossecução da expansão no Norte de África ou um possível auxílio a Castela na guerra contra o reino mouro de Granada. O conde de Barcelos, mostrou ser contrário aos pedidos para a guerra pois estes afectavam grandemente o povo e era no coração do povo que residia o tesouro do rei. O conselho, que primava pelo bom-senso e argumentos pacifistas, advogava contra a guerra em África e contra uma expedição do infante D. Henrique a Marrocos apresentando como principais motivos a delapidação do tesouro régio. Para além dos pedidos, tal empresa implicava também recrutar naus, com prejuízo dos mercadores; recrutar combatentes entre lavradores e oficiais concelhios e isso causava grande dano aos campos e aos concelhos. No fundo, com a continuação da guerra norte-africana, D. Duarte arriscava-se a perder a boa vontade do povo. Além de que, em caso de uma eventual derrota, tornar-se-ia alvo de crítica. Contudo, se a guerra fosse inevitável, defendia a opção granadina por esta não implicar os meios logísticos e financeiros que Marrocos exigia e porque a manutenção do território conquistado seria mais fácil.
Após a morte de D. Duarte, em 1438, o conde de Barcelos apoiou a rainha viúva, insurgindo-se contra o infante D. Pedro, que acabaria por obter a regência durante a menoridade de D. Afonso V. Segundo as crónicas, apenas a intervenção apaziguadora do conde de Ourém conseguiu prevenir uma situação de guerra civil. Em 1442, após a morte de D. Duarte, senhor de Bragança, sem herdeiros, D. Pedro fez mercê a seu meio-irmão, D. Afonso, do ducado de Bragança, numa tentativa de o neutralizar. Não conseguiu. A hostilidade para com o regente recomeçou quando, após D. Afonso ter proposto a sua neta D. Isabel como noiva de D. Afonso V, D. Pedro anunciou o casamento do monarca com a sua filha (a neta do Duque de Bragança veio a casar em Castela e foi a mãe de Isabel a Católica). Anos mais tarde o regente recusou também o cargo de condestável ao conde de Ourém. A hostilidade entre o duque de Bragança e o regente ia crescendo. Em 1446, através de um procurador, D. Afonso impugnou a continuidade da regência por D. Afonso V já ser maior de idade. Mas o monarca voltou a entregar o governo do Reino ao tio D. Pedro. O fim da regência só se deu em 1448, quando o monarca, recém-casado, iniciou uma politica diametralmente oposta à do seu tio. Nesta altura, a Casa de Bragança voltou a ganhar terreno. O ano seguinte sobressaiu por uma série de mal entendidos, que iriam culminar na Batalha de Alfarrobeira.
Os últimos dez anos de vida do duque de Bragança, mais calmos, primaram pela sua constante influência junto do rei que, em Janeiro de 1453, lhe fez doação da Ilha do Corvo, nos Açores.
Em 1455 o velho duque foi padrinho do príncipe D. João e em 1458, aquando da conquista de Alcácer Ceguer, foi nomeado regente do Reino, incumbência que não quis aceitar por preferir acompanhar os filhos e netos na luta contra os mouros (já tinha mais de 80 anos).
O duque morreu a 15 de Dezembro de 1461, no seu palácio de Chaves, um ano depois do seu filho primogénito, D. Afonso. Foi D. Fernando quem herdou o ducado, concentrando na mesma pessoa a quase totalidade do património que havia pertencido ao condestável D. Nuno Álvares Pereira.
Bibliografia:
CUNHA, Mafalda Soares da, Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa de Bragança (1384-1483), Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1990. Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa), edição diplomática de João José Alves DIAS, Lisboa, Estampa, 1982. MACHADO, J. T. Montalvão, Dom Afonso, 8.º Conde de Barcelos, fundador da Casa de Bragança, sep. Revista de Guimarães, vol. LXXIII, 1963. SOUSA, António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo V, nova edição revista por M. Lopes de Almeida e César Pegado, Coimbra, Atlântida Livraria Editora, 1948.
Quando em 1387 D. João I casou com D. Filipa de Lencastre os bastardos régios foram admitidos na corte. A sua mãe, Inês Pires, ingressou por, esta altura, no Convento de Santos-o-Velho. Apesar disso, D. Afonso optou por continuar a viver em Leiria, talvez por se sentir inferior na sua condição de bastardo. Seria, aliás, uma atitude constante ao longo da sua vida: preferia gerir as questões da corte à distância, através das suas alianças.
Durante a adolescência, D. Afonso acompanhou o pai no cerco a Tui, cidade na qual foi armado cavaleiro a 26 de Julho de 1398.
Em 1401 foi legitimado pelo rei e, um mês depois, a 8 de Novembro, casou com D. Beatriz Pereira, única herdeira do condestável D. Nuno Álvares Pereira. O condestável doou ao casal todos os bens que possuía a norte do rio Douro aos quais se juntavam os termos de Neiva e Faria, já anteriormente doados pelo rei ao seu filho. D. João I aprovou ainda a cedência do título de conde de Barcelos de D. Nuno Álvares Pereira para D. Afonso. Os novos condes de Barcelos fixaram a sua residência em Chaves, onde nasceram os seus filhos (D. Isabel, que casou com o infante D. João; D. Afonso, conde de Ourém e D. Fernando, conde de Arraiolos), embora passassem grandes temporadas em Guimarães e Barcelos.
Em 1405, D. Afonso acompanhou a irmã, D. Beatriz a Inglaterra onde esta casou com Thomas Fitz Alan, conde de Arundel, parente próximo da rainha D. Filipa de Lencastre. Ao casamento, realizado em Londres pelo Arcebispo da Cantuária, assistiu toda a família real inglesa.
Entre 1406 e 1409, D. Afonso empreendeu uma viagem à Terra Santa, tendo passado por Castela, Aragão, França, Veneza, Hungria, Polónia e o Sacro Império Romano Germânico. Há notícias de que durante este périplo, D. Afonso ajudou o Imperador Segismundo da Alemanha na guerra contra os Turcos.
D. Afonso teve uma importante participação na conquista de Ceuta, em 1415, tendo sido o encarregado de recrutar gente em Trás-os-Montes e Entre-Douro-e-Minho. Regressou à praça em 1419, acompanhando os irmãos D. Henrique e D. João, por esta se encontrar cercada.
Viúvo (D. Beatriz morreu de parto entre 1409 e 1415), o conde de Barcelos voltou a casar, a pedido de seu pai, em 1420, com sua prima, D. Constança de Noronha, filha do conde de Gijón e de D. Isabel, filha natural do rei D. Fernando.
O ano de 1422 foi de importância vital para a constituição da Casa de Bragança. A 4 de Abril, o condestável D. Nuno Álvares Pereira fez doação aos seus netos do condado de Ourém e de Arraiolos e respectivos domínios e direitos. D. Afonso passou, assim, a ser o único dos filhos de D. João I a ter filhos titulados, situação que lhes conferia a possibilidade de desdobrar várias alianças.
Em 1432, o infante D. Duarte pediu aos seus irmãos aos condes de Barcelos, Ourém e Arraiolos, conselho sobre uma intervenção militar portuguesa: a prossecução da expansão no Norte de África ou um possível auxílio a Castela na guerra contra o reino mouro de Granada. O conde de Barcelos, mostrou ser contrário aos pedidos para a guerra pois estes afectavam grandemente o povo e era no coração do povo que residia o tesouro do rei. O conselho, que primava pelo bom-senso e argumentos pacifistas, advogava contra a guerra em África e contra uma expedição do infante D. Henrique a Marrocos apresentando como principais motivos a delapidação do tesouro régio. Para além dos pedidos, tal empresa implicava também recrutar naus, com prejuízo dos mercadores; recrutar combatentes entre lavradores e oficiais concelhios e isso causava grande dano aos campos e aos concelhos. No fundo, com a continuação da guerra norte-africana, D. Duarte arriscava-se a perder a boa vontade do povo. Além de que, em caso de uma eventual derrota, tornar-se-ia alvo de crítica. Contudo, se a guerra fosse inevitável, defendia a opção granadina por esta não implicar os meios logísticos e financeiros que Marrocos exigia e porque a manutenção do território conquistado seria mais fácil.
Após a morte de D. Duarte, em 1438, o conde de Barcelos apoiou a rainha viúva, insurgindo-se contra o infante D. Pedro, que acabaria por obter a regência durante a menoridade de D. Afonso V. Segundo as crónicas, apenas a intervenção apaziguadora do conde de Ourém conseguiu prevenir uma situação de guerra civil. Em 1442, após a morte de D. Duarte, senhor de Bragança, sem herdeiros, D. Pedro fez mercê a seu meio-irmão, D. Afonso, do ducado de Bragança, numa tentativa de o neutralizar. Não conseguiu. A hostilidade para com o regente recomeçou quando, após D. Afonso ter proposto a sua neta D. Isabel como noiva de D. Afonso V, D. Pedro anunciou o casamento do monarca com a sua filha (a neta do Duque de Bragança veio a casar em Castela e foi a mãe de Isabel a Católica). Anos mais tarde o regente recusou também o cargo de condestável ao conde de Ourém. A hostilidade entre o duque de Bragança e o regente ia crescendo. Em 1446, através de um procurador, D. Afonso impugnou a continuidade da regência por D. Afonso V já ser maior de idade. Mas o monarca voltou a entregar o governo do Reino ao tio D. Pedro. O fim da regência só se deu em 1448, quando o monarca, recém-casado, iniciou uma politica diametralmente oposta à do seu tio. Nesta altura, a Casa de Bragança voltou a ganhar terreno. O ano seguinte sobressaiu por uma série de mal entendidos, que iriam culminar na Batalha de Alfarrobeira.
Os últimos dez anos de vida do duque de Bragança, mais calmos, primaram pela sua constante influência junto do rei que, em Janeiro de 1453, lhe fez doação da Ilha do Corvo, nos Açores.
Em 1455 o velho duque foi padrinho do príncipe D. João e em 1458, aquando da conquista de Alcácer Ceguer, foi nomeado regente do Reino, incumbência que não quis aceitar por preferir acompanhar os filhos e netos na luta contra os mouros (já tinha mais de 80 anos).
O duque morreu a 15 de Dezembro de 1461, no seu palácio de Chaves, um ano depois do seu filho primogénito, D. Afonso. Foi D. Fernando quem herdou o ducado, concentrando na mesma pessoa a quase totalidade do património que havia pertencido ao condestável D. Nuno Álvares Pereira.
Bibliografia:
CUNHA, Mafalda Soares da, Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa de Bragança (1384-1483), Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1990. Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa), edição diplomática de João José Alves DIAS, Lisboa, Estampa, 1982. MACHADO, J. T. Montalvão, Dom Afonso, 8.º Conde de Barcelos, fundador da Casa de Bragança, sep. Revista de Guimarães, vol. LXXIII, 1963. SOUSA, António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo V, nova edição revista por M. Lopes de Almeida e César Pegado, Coimbra, Atlântida Livraria Editora, 1948.